domingo, 31 de agosto de 2025

Comunismo e Cristianismo: o que precisamos refletir

 

Comunismo e Cristianismo: o que precisamos refletir

Por Pedro Claudio em 31 de agosto de 2025

Imagem ilustrativa Câmara de vereadores 



É comum ouvir religiosos pregarem contra o comunismo em seus púlpitos. Muitas vezes, no entanto, o tema é tratado sem explicação clara e sem catequese suficiente para que a assembleia compreenda o que está em jogo. A associação direta de comunismo com “ser contra Deus”, “defender o aborto”, “acabar com a família” ou “aprovar uniões do mesmo sexo” parece simplista e distante de uma análise histórica e teológica mais séria.

Não seria falta de responsabilidade pedir à Nossa Senhora que nos livre do comunismo — como já foi feito por um  bispo — sem antes explicar o que se entende por comunismo, sua origem, seus contextos e diferentes interpretações? O cargo de pastor, confiado pela Igreja, exige cuidar do rebanho, e não apenas impor opiniões pessoais. Num Estado democrático e laico, politizar o púlpito é um desserviço à fé e ao próprio Cristianismo.

O estudo é necessário. Ler bons livros que expliquem o que é o comunismo, sua história e suas diversas formas de aplicação pode ajudar. Nas leituras bíblicas, por exemplo, encontramos passagens que inspiraram ideais de partilha e solidariedade.

“Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e tinham tudo em comum; vendiam suas propriedades e seus bens, e repartiam com todos, segundo a necessidade de cada um.” (Atos 2,44-45)

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.” (Mateus 6,24)

“Ai de vós, ricos, porque já recebestes a vossa consolação! Ai de vós, que agora tendes fartura, porque passareis fome.” (Lucas 6,24-25)

Essas palavras nos mostram que a crítica à concentração de riqueza e a defesa da partilha fazem parte da mensagem de Jesus. Não seria isso um “comunismo cristão”?

O perigo está em transformar “comunismo” em figura de linguagem para atacar adversários políticos. Nesse caso, o púlpito se torna palanque, e não espaço sagrado. Jesus nos alertou:

“Ai daquele que escandalizar um destes pequeninos que creem em mim! Melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho ao pescoço e ser lançado ao mar.” (Marcos 9,42)

O magistério da Igreja já se posicionou em contextos históricos, como na encíclica Rerum Novarum de Leão XIII (1891), que criticava tanto o socialismo quanto o liberalismo selvagem da Revolução Industrial. Mas cabe perguntar: qual era o contexto? Não seria também a defesa de privilégios e estruturas de poder?

A palavra “comunismo” é usada de diferentes formas: o comunismo filosófico de Platão em A República; o comunismo teórico de Karl Marx; as experiências políticas em Cuba, China, Rússia ou Venezuela. São realidades distintas. Reduzir tudo a um rótulo negativo não contribui para a verdade.

Por isso, pensar, estudar e refletir é dever de todo cristão que não quer repetir boatos de tempos de ditadura. O Evangelho pede discernimento.

O convite é este: antes de condenar, busquemos compreender. A fé não se alimenta de slogans, mas da verdade que liberta.

“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8,32)

 

Nenhum comentário: