Onde está o Cristo pobre em meio a tanto luxo?
Por Pedro Claudio, 15 de julho de 2025
Sempre me pergunto, com o coração inquieto: se Jesus foi simples, pobre, defensor dos pobres e sempre pregou isso, por que temos hoje tantos sinais de ostentação entre nós, seus seguidores? Por que vestes caras, paramentos reluzentes, igrejas que mais parecem palácios, onde o pobre muitas vezes entra com receio, sentindo que não pertence àquele lugar?
É difícil compreender. E não falo como quem está de fora. Participei de cursos de teologia, formações pastorais e bíblicas, e mesmo assim me vejo cercado de dúvidas. Porque o Evangelho é claro — não deixa margem para interpretações condescendentes com a acumulação de bens.
Disse Jesus ao jovem rico:
“Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me.”
(Mateus 19,21)
E mais adiante, completa:
“É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.”
(Mateus 19,24)
Essas palavras não são simbólicas ou exageradas. São diretas, desafiadoras. Elas confrontam a lógica do mundo — e deveriam confrontar a Igreja também, quando esta parece preferir a segurança do luxo à radicalidade do Evangelho.
Onde estão hoje os seguidores de São Francisco de Assis, de Santa Dulce dos Pobres, do Papa João XXIII — homens e mulheres que, com simplicidade, fizeram da sua vida um testemunho? Carros populares tornaram-se quase escândalo. Celulares simples, exceção. A desculpa é a segurança, a necessidade do trabalho. Mas até onde isso é verdade? E onde começa a sede por status?
É fácil julgar os outros, é verdade. Muitos políticos, por exemplo, chegam dizendo que vão mudar o sistema, mas logo que assumem um cargo, passam a servir-se dele. Isso também ocorre em nossas comunidades. Há os que começaram ao lado dos pobres, mas com o tempo, preferiram os salões dos mais abastados.
O Papa Francisco vem nos lembrando da “Igreja em saída”, uma Igreja “pobre para os pobres”. Mas será que estamos realmente seguindo esse caminho?
“Acumulastes tesouros nos últimos dias. Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram vossos campos, que por vós foi retido com fraude, está clamando.”
(Tiago 5,3-4)
Hoje, não é incomum ver taxas para sacramentos, ofertas “obrigatórias”, festas que excluem quem não pode pagar. O discurso é acolhedor, mas na prática... basta olhar quem está no banco ao lado. Quantos dos pequenos realmente permanecem? Quantos se sentem à vontade?
Apesar de tudo isso, não falo como quem se coloca acima. Eu também erro, também sou parte dessa realidade. Também carrego a minha parcela de incoerência. Mas, por isso mesmo, me questiono: será que nossa conversão é real? Ou é só de aparência?
“Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões arrombam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu.”
(Mateus 6,19-20)
Que a cada dia, ao olhar para o Cristo crucificado — nu, rejeitado, excluído — possamos rever nossas prioridades. Que a nossa conversão seja sincera, cotidiana. E que, mesmo em meio à modernidade, não percamos o essencial: a simplicidade, o amor aos pobres, a partilha.
“Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.”
(Mateus 5,3)