quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Ouvindo, lendo, refletindo e aprendendo para melhor viver

 

Por Pedro Cláudio – ouvindo, lendo, refletindo e aprendendo para melhor viver


Vivemos tempos em que as vozes religiosas, sobretudo as das correntes neo-protestantes e pentecostais, anunciam com veemência: “Jesus está voltando”. Os sinais do tempo, dizem eles, apontam para o fim. Guerras, desastres naturais, desordem moral e espiritual seriam os prenúncios da consumação dos séculos. O homem mais cético, no entanto, observa que esse discurso acompanha o cristianismo desde os seus primórdios — há mais de dois mil anos —, e percebe que, historicamente, a expectativa do “fim dos tempos” é também uma constante humana, um espelho de nossos medos, esperanças e limites.

Ao longo dos séculos, essa narrativa tem sido usada tanto como instrumento de fé quanto de poder. Em nome dela, muitos moldam o comportamento das pessoas, impondo regras e controles. Há os que dela se aproveitam, vendendo ilusões e “pedacinhos do céu”; mas há também os que, sinceramente, creem e encontram na promessa da volta de Cristo uma razão profunda para viver com retidão. Assim, há um lado sombrio — o da manipulação e da exploração da fé —, mas também um lado luminoso, que é o pedagógico: o temor de Deus pode ser, para muitos, o freio moral que impede a ruína do convívio humano.

Sem esse senso do divino, talvez parte da humanidade já tivesse se perdido. Como disse Santo Agostinho, “inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti” (Confissões, I,1). É essa inquietação — o desejo de eternidade e sentido — que nos leva a buscar Deus, ainda que através do medo do fim. O verdadeiro desafio é transformar o medo em amor, o temor em esperança. Que a fé que Jesus ensinou, mesmo que pequena como um grão de mostarda (cf. Mt 17,20), conduza a humanidade pelos caminhos da paz, da fidelidade e do amor verdadeiro. Estamos precisando, mais do que nunca, dessa fé que não se impõe, mas se testemunha.

A metáfora do “fim dos tempos como uma mulher grávida”, cheia de dores e contrações, atravessa as Escrituras e nos convida à reflexão profunda. O próprio Cristo, em Mateus 24,8, advertiu: “Mas tudo isso é o começo das dores .” Ele falava de guerras, fomes e terremotos, sinais não apenas físicos, mas espirituais — o sofrimento do mundo que geme por redenção.

O apóstolo Paulo retoma essa imagem em 1 Tessalonicenses 5,3 : “Quando as pessoas disserem : Estamos em paz e segurança ,então de repente a ruina cairá sobre elas, como em dores do parto para a  mulher grávida, e não conseguirão escapar.”É um alerta à falsa tranquilidade: a verdadeira paz só virá com a conversão do coração.

Em Romanos 8,22-23, Paulo amplia o sentido da metáfora: “Sabemos que a criação toda geme e sofre dores de parto até agora.” O universo inteiro participa dessa expectativa da redenção, como se tudo — estrelas, mares, florestas e homens — estivesse grávido de eternidade, aguardando a plenitude do Reino de Deus.

E, por fim, no simbólico Apocalipse 12,2,  “ Estava grávida e gritava,  entre as dore do parto, atormentada para dar à luz”. É a mulher que grita em dores de parto anuncia o nascimento de algo novo: a vitória da vida sobre a morte, da graça sobre o pecado.

Essas passagens mostram que as “dores de parto” não são apenas sinal de destruição, mas de gestação. O mundo, com suas crises e sofrimentos, pode estar gerando uma nova consciência espiritual, um novo modo de ser humano.

Que saibamos, então, ler os sinais do tempo não com medo, mas com esperança. O “fim” pode ser, na verdade, o início de algo mais pleno. Que nas dores do presente nasça um novo homem, mais justo, mais compassivo e mais unido a Deus.

“Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,5).

Pedro Cláudio – 30 de outubro
Refletindo sobre o final do ano e as celebrações que se aproximam, na esperança de que, em meio às dores e às esperas, renasça em nós a fé que transforma o medo em amor e o fim em recomeço.