sábado, 13 de dezembro de 2025

Eu ainda estou aqui: Pedro Claudio e uma vida dedicada ao rádio

 

Pedro Claudio e sua história






Ao final de 2025, olho para trás e me permito refletir.
Antes de tudo, constato algo simples e profundo: eu ainda estou aqui.

Iniciei minha atividade profissional na Rádio Rio Claro de Iporá, Goiás, em abril de 1987. Em abril de 2026, completarei 39 anos de trabalho na mesma empresa. Uma vida inteira dedicada à comunicação, atravessando transformações políticas, sociais, tecnológicas e humanas.

Quando cheguei à emissora, Iporá vivia outro tempo. O prefeito era José Antônio da Silva Sobrinho, awu primeiro mandato, tendo como vice Sebastião Pereira Coutinho. Mais adiante, Mac Manhoe Távora Diniz, então secretário de Saúde, assumiria a prefeitura. Vieram anos marcados por instabilidade política: a fase do PMDB, seguida pelo PSDB, com o mandato do doutor Iron, que acabou cassado. Houve intervenção do Governo do Estado, com a nomeação do interventor Luiz Otávio, depois o prefeito temporário Valdion Marques. Na sequência, um longo ciclo político com Naçoitan Leite, precedido por Danilo Gleic, até chegarmos a um marco histórico: Mayza Cunha, a primeira mulher a comandar a Prefeitura de Iporá.

Enquanto a cidade escrevia sua história, o mundo também mudava diante dos meus olhos — e dos meus microfones. Iniciei minha carreira antes da internet. O que havia era o telefone. Depois veio o fax, que já parecia uma revolução. Não existiam computadores, nem comutadores; as redações funcionavam com máquinas de datilografia, papel carbono e muito improviso. A informação chegava pelo rádio, pelas agências, pelas fitas gravadas. O mundo era ouvido, reescrito e contado.

Acompanhei acontecimentos que marcaram gerações:
o mundo ainda assistia à existência da União Soviética, sob a liderança de Mikhail Gorbachev, com a Perestroika e a Glasnost anunciando o fim de uma era; o Brasil se chocava com o acidente radioativo do Césio-137, em Goiânia; vivíamos o fim da ditadura militar, a Nova República, o término da censura e a retomada da liberdade de imprensa. Noticiei a eleição de Tancredo Neves, a instalação da Assembleia Nacional Constituinte, sua morte precoce e a ascensão de José Sarney à Presidência. Vi nascer a Constituição de 1988 e acompanhei, passo a passo, a consolidação da democracia brasileira.

Nesse mesmo período, passei a acompanhar de perto o Legislativo iporaense, noticiando sessões, debates, conflitos e decisões que moldaram a vida local. O rádio era — e continua sendo — testemunha da história cotidiana.

Meu ingresso na Rádio Rio Claro se deu por meio de um concurso para locutor, anunciado no ar pelo então diretor Olívio Lemos, que buscava novos talentos. O anúncio exigia, no mínimo, o 2º grau — hoje ensino médio —, boa dicção, capacidade de interpretação de texto e disponibilidade para trabalhar.

Me inscrevi para disputar a vaga com um verdadeiro batalhão: mais de cem candidatos. Passei pela primeira peneira; restamos 41. Depois, uma nova fase reduziu o grupo a sete. Por fim, ficamos três. Esses três enfrentaram um teste real: leitura de anúncios nos intervalos, gravação de textos para inserção e leitura de noticiários. Foram três meses de avaliação prática, até a efetivação.

Por mais de um ano trabalhei sem carteira assinada, sem contrato formal. Somente em maio de 1988, aos 23 anos, tive a carteira assinada e passei a ser CLT. Desde então, os anos se acumularam — todos vividos dentro da mesma emissora.

Na técnica, vivi praticamente todas as fases do rádio:
do disco de vinil, radiola, vitrola e cartucheira, passei pelo MiniDisc, pelo CD Player, até chegar à era digital, quando a internet mudou tudo — a forma de produzir, de informar e de se relacionar com o público.

Nesse tempo, exerci diversas funções, fiz cursos, treinamentos e aperfeiçoamentos. Desde o início, me firmei como locutor animador, repórter e jornalista. Funções que desempenho até hoje: editor, pauteiro, repórter, locutor e, quando necessário, operador de áudio. O rádio ensina uma lição fundamental: ninguém é apenas uma coisa.

Os anos de trabalho me trouxeram sabores — no plural — aprendizado e, sobretudo, sobrevivência. Agora, já me aproximando da aposentadoria, volto a olhar para trás e me faço perguntas inevitáveis:
Quantas situações enfrentei?
Quantas histórias contei?
Quantos segredos revelei — e quantos precisei guardar?

Quantas vezes tive de me conter em nome da coerência e da ética profissional? Quantas vezes me perguntei: essa notícia vai contribuir com a cidade? Com a comunidade? Será útil para alguém? Quantas vezes acertei e quantas vezes errei, nem sei. Mas sei que consegui me manter antenado, sempre buscando atualização, atravessando períodos de intensa produção e outros de silêncio — e, ainda assim, permanecendo firme.

Não há arrependimentos. A evolução poderia ter sido outra? Talvez. Mas por quê? A vida precisa ser vivida com a intensidade que o contexto permite.

Na vida pessoal, conheci pessoas, namorei, casei, tive dois filhos maravilhosos. Fiquei viúvo — uma dor que a vida impôs — e casei novamente. Duas mulheres extraordinárias marcaram profundamente minha existência. Com elas, construí e continuo construindo a vida, sempre em busca de dias melhores.

Sinto que, em algum momento, será preciso passar o bastão. Isso ainda será feito. Mas também sinto que ainda há tempo. Tempo para continuar inserido no mundo noticioso, construindo história, acompanhando o homem e a mulher da cidade e do campo, criando pontes. Com a consciência de que vivo, ao mesmo tempo, na aldeia e no global, e de que o que faço aqui — na minha casa, na minha empresa, na minha família, entre amigos — tem reflexos que ultrapassam fronteiras.

Ao longo de décadas, a atuação como rádio regional nos colocou na linha de frente de acontecimentos que marcaram profundamente a história política, social e humana do Oeste de Goiás. Mais do que noticiar fatos, estivemos presentes como testemunhas do tempo, acompanhando crises, transformações e personagens que ajudaram a moldar a identidade da região.

Entre os episódios mais graves cobertos, está o atentado contra o então prefeito de Montes Claros de Goiás, João Batista Peres. Um fato que chocou a população: um homem pulou o muro da residência do prefeito e efetuou disparos, levando insegurança e apreensão à cidade e a toda a região. A cobertura exigiu responsabilidade, cautela e compromisso com a verdade em um momento de extrema tensão.

Em Israelândia, acompanhamos a trajetória política de Armando Cruz Manduca, ex-prefeito de uma cidade marcada pelo garimpo, pela degradação do Rio Claro e por preocupações ambientais e sociais que se arrastaram por anos. Foi também em Israelândia que se deu um dos períodos mais conturbados da política local, durante a gestão de Divino do Jonas, personagem central de uma fase turbulenta, mas que entrou para a história ao apresentar à região o nome de Marconi Perillo, então um jovem praticamente desconhecido no Oeste goiano. Divino do Jonas enfrentou inúmeros problemas políticos e administrativos e, posteriormente, viria a eleger sua esposa prefeita do município, fato que também acompanhamos de perto.

Em Amorinópolis, a cobertura foi marcada pela sucessão de administrações e por uma história pessoal e política dramática. Desde a gestão de Ademir Leite, que mais tarde foi sucedido pela esposa, em um contexto de separação, até o desfecho trágico com a morte de Ademir, episódios que comoveram a cidade e exigiram sensibilidade jornalística diante da dor coletiva.

Arenópolis, outro importante município da região, viveu um momento de expectativa e renovação com a gestão do prefeito Orestino Vilela, simbolizando um novo tempo administrativo. No entanto, a cidade também foi palco de um crime que abalou toda a região: o homicídio do médico Leandro Neto, figura querida, músico, poeta, dirigente esportivo, presidente e fundador do Iporá Esporte Clube, cuja morte gerou profunda comoção e repercussão regional.

Em Piranhas, desde a gestão de Otair Theodoro, acompanhamos de forma constante as administrações municipais e o interesse do público regional, registrando decisões políticas, obras, conflitos e avanços. Já em Jaupaci, outra cidade importante do Oeste goiano, estivemos atentos às diversas gestões, incluindo a de Antônio José Guimarães, sempre mantendo o compromisso de informar com equilíbrio e proximidade com a população.

Por isso, sigo.
E por isso, acima de tudo, viva a vida.