domingo, 26 de outubro de 2025

A Vida e Suas Surpresas: Reflexão Sobre Perdas e Caminhos

 

A Vida e Suas Surpresas: Reflexão Sobre Perdas e Caminhos

 


Por Pedro Claudio Rosa, de Iporá – Goiás

 

A vida reserva muitas surpresas — e é justamente nessa dinâmica incessante que encontramos a verdadeira densidade da existência. Tudo muda o tempo todo, e precisamos de um imenso esforço para não sucumbir nessa história, para não nos entregarmos ao desânimo. Viver exige coragem, sobretudo em meio às perdas.

 

Lembranças que permanecem

 

Lembro-me de anos marcados pela partida de pessoas queridas — Marlene Eva, Roberto Cassiano, Guinter Rodrigues e Waldiney Gomes — amigos que estiveram ali, sorrindo na confraternização da rádio em janeiro de 2020, e que depois partiram.

Essa memória — alegre e, ao mesmo tempo, gravada por um silêncio invisível — revela a complexidade da vida: a convivência com o efêmero, a presença que se transforma em lembrança, o lugar que se mantém guardado no coração.

 

O convite da vida: aprender com a dor

 

Viver sabendo que a morte física é certa, que perdas virão, e que não há “outro caminho” senão seguir, é um desafio constante. Mas é também um convite.

As perdas precisam nos ensinar. Temos que aprender e seguir, por caminhos tortuosos ou não. Cada pessoa traz dentro de si um suporte, uma estrutura — e essa estrutura pode e deve ser alimentada pelo significado, pela memória, pela fé e pela esperança.

 

Reconhecer a dor

 

DOEM AS PARTIDAS. DOEM OS LUGARES QUE FICAM VAZIOS, OS RITUAIS QUE JÁ NÃO TÊM A MESMA FORMA. A REALIDADE É QUE VOCÊ SOFRERÁ PARA SEMPRE.

Você não vai “superar” a perda de um ente querido; você aprenderá a conviver com ela. Vai se curar e se reconstruir em torno da perda que sofreu.

Reconhecer que a dor é parte da vida — e que ela não será apagada com rapidez — é essencial para não nos tornarmos “zumbis” da própria história.

 

Transformar a perda em força

 

Cada uma das pessoas que partem conviveu conosco de um jeito único. Elas deixaram memórias, gestos e sorrisos — e agora cabe a nós carregar esses legados internamente.

Como lembra um pensamento inspirador:

 

“Em cada final, um novo começo espera silenciosamente.”

(uncommonquotes.com)

 

Não se trata de esquecer, mas de transformar o que se foi em força para seguir adiante.

 

Fidelidade à vida

 

Outro ensinamento importante é não desistir de viver.

Devemos permanecer fiéis à vida — não nos entregar aos vícios, ao desânimo ou ao abandono.

Mesmo quando o chão treme, é preciso cultivar um sentido, escolher viver com propósito.

 

O poeta Henry Wadsworth Longfellow escreveu em A Psalm of Life:

 

“A vida é real! A vida é séria!

Aja, aja no presente vivo!

Vamos então levantar-nos e agir,

Com coração para qualquer destino.”

 

Que essa atitude seja a nossa bandeira: viver o presente, agir, amar, recordar, criar.

 

Confiar em algo maior

 

Sou católico praticante, diácono permanente, e creio que Deus é presença constante na vida dos que creem.

Mesmo quando o caminho é tortuoso, mesmo quando a perda parece esmagar-nos, confiar em um suporte — seja espiritual, seja comunitário — ajuda a sustentar a alma.

 

A imagem daquela confraternização — alegre, cheia de amizade e boas lembranças — é preciosa. O fato de ter sido a última celebração para alguns não a torna triste: a torna intensa, significativa.

Devemos guardar essas memórias com gratidão, celebrá-las com leveza e honrá-las vivendo de modo que o princípio da vida deles se reflita em nós — em amor, companheirismo e fé.

 

Seguir adiante

 

Devemos seguir, mesmo que o passo esteja pesado, mesmo que o horizonte pareça incerto.

A vida não para — e a nossa história continua. A dor não precisa ser eterna, nem em vão; ela pode se transformar em reverência ao que foi e em impulso ao que será.

 

Que cada perda não seja apenas um vazio, mas também um portal para exercer a gratidão, renovar o sentido e amar mais forte.

Que eu, você — e todos que perderam — encontremos no meio dessa estrada dinâmica algo que ainda pulsa: a fé de que há algo mais, o abraço invisível da memória, a promessa de novos dias, de novas cores.

 

E que, acima de tudo, preservemos o compromisso com a vida — não em autoabandono, não em rendição, mas em coragem de construir, em esperança de renascer.

 

Com fé e solidariedade, compartilho essa minha experiência de vida.

— Pedro Claudio Rosa