A Vida e Suas Surpresas: Reflexão Sobre Perdas e
Caminhos
Por Pedro Claudio Rosa, de Iporá – Goiás
A vida reserva muitas surpresas — e é justamente nessa
dinâmica incessante que encontramos a verdadeira densidade da existência. Tudo
muda o tempo todo, e precisamos de um imenso esforço para não sucumbir nessa
história, para não nos entregarmos ao desânimo. Viver exige coragem, sobretudo
em meio às perdas.
Lembranças que permanecem
Lembro-me de anos marcados pela partida de pessoas
queridas — Marlene Eva, Roberto Cassiano, Guinter Rodrigues e Waldiney Gomes —
amigos que estiveram ali, sorrindo na confraternização da rádio em janeiro de
2020, e que depois partiram.
Essa memória — alegre e, ao mesmo tempo, gravada por
um silêncio invisível — revela a complexidade da vida: a convivência com o
efêmero, a presença que se transforma em lembrança, o lugar que se mantém
guardado no coração.
O convite da vida: aprender com a dor
Viver sabendo que a morte física é certa, que perdas
virão, e que não há “outro caminho” senão seguir, é um desafio constante. Mas é
também um convite.
As perdas precisam nos ensinar. Temos que aprender e
seguir, por caminhos tortuosos ou não. Cada pessoa traz dentro de si um
suporte, uma estrutura — e essa estrutura pode e deve ser alimentada pelo
significado, pela memória, pela fé e pela esperança.
Reconhecer a dor
DOEM
AS PARTIDAS. DOEM OS LUGARES QUE FICAM VAZIOS, OS RITUAIS QUE JÁ NÃO TÊM A
MESMA FORMA. A REALIDADE É QUE VOCÊ SOFRERÁ PARA SEMPRE.
Você não vai “superar” a perda de um ente querido;
você aprenderá a conviver com ela. Vai se curar e se reconstruir em torno da
perda que sofreu.
Reconhecer que a dor é parte da vida — e que ela não
será apagada com rapidez — é essencial para não nos tornarmos “zumbis”
da própria história.
Transformar a perda em força
Cada uma das pessoas que partem conviveu conosco de um
jeito único. Elas deixaram memórias, gestos e sorrisos — e agora cabe a nós
carregar esses legados internamente.
Como lembra um pensamento inspirador:
“Em cada final, um novo começo espera silenciosamente.”
(uncommonquotes.com)
Não se trata de esquecer, mas de transformar o que se
foi em força para seguir adiante.
Fidelidade à vida
Outro ensinamento importante é não desistir de viver.
Devemos permanecer fiéis à vida — não nos entregar aos
vícios, ao desânimo ou ao abandono.
Mesmo quando o chão treme, é preciso cultivar um
sentido, escolher viver com propósito.
O poeta Henry Wadsworth Longfellow escreveu em A Psalm
of Life:
“A vida é real! A vida é séria!
Aja, aja no presente vivo!
Vamos então levantar-nos e agir,
Com coração para qualquer destino.”
Que essa atitude seja a nossa bandeira: viver o
presente, agir, amar, recordar, criar.
Confiar em algo maior
Sou católico praticante, diácono
permanente, e creio que Deus é presença constante na vida dos que creem.
Mesmo quando o caminho é tortuoso, mesmo quando a
perda parece esmagar-nos, confiar em um suporte — seja espiritual, seja
comunitário — ajuda a sustentar a alma.
A imagem daquela confraternização — alegre, cheia de
amizade e boas lembranças — é preciosa. O fato de ter sido a última celebração
para alguns não a torna triste: a torna intensa, significativa.
Devemos guardar essas memórias com gratidão,
celebrá-las com leveza e honrá-las vivendo de modo que o princípio da vida
deles se reflita em nós — em amor, companheirismo e fé.
Seguir adiante
Devemos seguir, mesmo que o passo esteja pesado, mesmo
que o horizonte pareça incerto.
A vida não para — e a nossa história continua. A dor
não precisa ser eterna, nem em vão; ela pode se transformar em reverência ao
que foi e em impulso ao que será.
Que cada perda não seja apenas um vazio, mas também um
portal para exercer a gratidão, renovar o sentido e amar mais forte.
Que eu, você — e todos que perderam — encontremos no
meio dessa estrada dinâmica algo que ainda pulsa: a fé de que há algo mais, o
abraço invisível da memória, a promessa de novos dias, de novas cores.
E que, acima de tudo, preservemos o compromisso com a
vida — não em autoabandono, não em rendição, mas em coragem de construir, em
esperança de renascer.
Com fé e solidariedade, compartilho essa minha
experiência de vida.
— Pedro Claudio Rosa