domingo, 4 de maio de 2025

Minha oração Poética

 


Oração da Rocha Solta

Por Pedro Claudio Rosa

Minha oração, ó Deus,
não é por ouro, nem por trono,
nem por nome em pedra ou história em bronze.
Peço sabedoria —
mas não aquela que impõe, que se ergue sobre ombros alheios,
e sim a que me permite ser eu, inteiro e silencioso,
sem coroas, sem correntes, sem máscaras.

Peço sabedoria para não ser conduzido por cordas invisíveis,
nem eu, condutor de vontades alheias.
Que eu não me perca em jogos de poder,
nem use meu saber para escurecer o outro.

Que em mim, a ignorância se curve
diante da luz da inteligência —
não para me elevar,
mas para enxergar além do espelho.

Minha fé, Senhor,
não seja cegueira vestida de devoção,
mas visão serena,
que compreende o invisível sem desprezar o tangível.
Que eu creia com razão, e raciocine com coração,
sem ceticismo árido,
mas também sem uma fé opaca que se fecha ao mundo.

Na vida, não quero ser vassalo, nem suserano.
Não quero títulos, nem bandeiras.
Nem capitalista, nem comunista,
nem príncipe, nem súdito.
Quero ser apenas o que sou:
uma rocha solta no universo,
um fragmento que busca se encaixar,
não em sistemas, mas em você.

Minha oração é por paz —
a paz de quem nada domina,
mas se reconhece parte do Todo.

Seja feliz.
E se puder, leve-me contigo —
não como servo, não como mestre,
mas como presença.
Apenas presença.

Iporá Goiás,04 de maio de 2025.

Para pensar tem titubear

 "Assim caminha a humanidade"

Por Pedro Claudio de Iporá Goiás 04 de maio de 2025

A vida é uma travessia desigual. Uns nascem prontos, outros precisam se construir aos pedaços. Alguns parecem ter sido colocados na linha de chegada enquanto outros mal encontram o ponto de partida. Entre os que se dão bem e os que lutam, estende-se um abismo silencioso — não apenas de oportunidades, mas de reconhecimento, de dignidade, de pertencimento.

Há uma distância quase sagrada entre os que dizem estar salvos e os que ainda buscam redenção. Religiosos se proclamam intermediários entre o céu e a terra, como se a salvação fosse propriedade sua, já garantida, já alcançada. Os fiéis, por sua vez, caminham, tropeçam, rezam, esperam. Talvez não pelo céu, mas por um olhar, uma escuta, uma resposta. E a distância entre os dois não é de fé, mas de poder.

Vivemos numa ordem onde poucos governam, mandam, interpretam e ensinam — e muitos obedecem, calam, aprendem o que lhes é permitido. Um mundo onde a autoridade não precisa de razão, apenas de posição. Os que carecem são mantidos por migalhas, não por falta de abundância, mas porque é assim que se perpetua o domínio.

O mesmo se dá nas sombras da fama e do heroísmo: de um lado os protagonistas da história, do outro os que aplaudem. Os que brilham, e os que se encantam com o brilho. Fãs olham de longe, heróis caminham acima. Os primeiros projetam sonhos, os segundos encarnam o inalcançável. E assim, de espelhos em espelhos, os papéis se fixam.

Cada um tem sua história — mas nem toda história tem voz. E os que caminham com o peso do silêncio sabem: a humanidade avança, mas não necessariamente evolui. O mundo gira, mas gira sempre para os mesmos.

E assim caminha a humanidade — entre muros invisíveis e pontes que não se constroem. Nada se tira, nada se cede. Apenas se mantém.