Cristo
Rei: O Julgar de Deus e o Julgar dos Homens
Por Pedro Claudio Rosa — Festa de Cristo Rei, 2025
É sempre
instigante comparar a mente humana,
com suas percepções limitadas e juízos de valor influenciados pela cultura,
pela moral e pelos costumes, com aquilo que Deus nos revela nas Sagradas Escrituras. Muitas vezes, ao
confrontarmos nossos critérios com a Palavra divina, percebemos o quanto somos
pequenos diante do mistério de Deus.
Neste
domingo, dia 23, a Igreja Católica encerra
o Ano Litúrgico com a Solenidade de Cristo Rei do Universo — uma espécie
de “31 de dezembro espiritual”. É o momento em que olhamos para Cristo como o Senhor do tempo, da história e do destino
humano.
O
Evangelho proposto hoje, Lucas 23,35-43,
nos apresenta um paradoxo desconcertante:
Como pode o Rei do Universo passar por
humilhações?
A cena da cruz, onde Cristo é insultado, ferido e ridicularizado, confronta
nossa ideia humana de poder. Queremos um rei forte, dominador, capaz de impor
sua força. Mas Cristo reina servindo, salva perdoando, governa amando.
A
liturgia de Cristo Rei nos faz recordar
o Domingo de Ramos, quando se
canta:
“Esperavam um grande Rei que fosse forte, dominador...”
E, no entanto, Ele entra humilde, montado num jumentinho, contrariando
expectativas e desafiando a lógica humana.
Outra
passagem que nos provoca reflexão é Mateus
20,1-16, a parábola do Reino dos Céus. Ali, Jesus derruba nossos
critérios de mérito e recompensa: os últimos recebem como os primeiros, e o
dono da vinha pergunta:
“Estás com inveja porque eu sou bom?”
O Reino de Deus, portanto, não se molda ao nosso senso de justiça limitada, mas
à justiça misericordiosa de Deus.
É por
isso que, embora seres humanos, Igreja e cristãos julguem uns aos outros, ninguém possui a certeza do julgamento de
Deus. Ele vê o que nós não vemos, conhece o que não conhecemos.
Sim,
existem trechos da Escritura que iluminam a autoridade dada à Igreja, como Mateus 16,19 e Mateus 18,18, onde Jesus fala do poder de ligar e desligar.
Contudo, mesmo com essa autoridade, permanece o risco de o homem apropriar-se do que é divino,
julgando, condenando e, às vezes, executando sem misericórdia.
No
entanto, o julgador também será julgado.
A pena que hoje se cumpre na terra pode ter reflexos em outras dimensões da
existência — como acreditam cristãos e muitos que, mesmo não sendo cristãos,
reconhecem a existência de uma divindade.
Em
resumo:
O julgamento feito “em nome de Deus” por instituições religiosas ou por seus
membros pode ser equivocado.
Mesmo estudando, relendo e aprofundando-se nas Escrituras, a visão humana
jamais alcança a totalidade do olhar divino.
Diante
disso, penso que cada pessoa deve viver
segundo sua consciência, mas com um compromisso claro:
– não prejudicar o outro;
– não destruir reputações;
– não tirar alguém de seu caminho;
– não tentar ser dono do destino alheio.
Não somos
senhores do destino de ninguém.
Que
tenhamos sabedoria para viver a liberdade como Deus deseja:
liberdade para escolher o bem, para
proteger a vida, para seguir o propósito divino.
Ao
encerrarmos mais um ano espiritual nesta semana, é tempo de olhar para trás,
reconhecer erros e assumir o compromisso de não repeti-los. Que 2026 seja um
tempo novo — e não apenas “remendo novo em pano velho”, como alerta o
Evangelho.
Que venha
até nós uma nova era:
uma era de paz, de consciência, de reconciliação e de fidelidade ao que Deus
sonha para nós.
Feliz Ano Novo Litúrgico. Feliz 2026.
Por Pedro
Claudio Rosa — 23 de novembro de 2025
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