quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Mankeeping, fragilidade humana e o desafio de saber viver

 


Mankeeping
, fragilidade humana e o desafio de saber viver

Por Pedro Claudio

O termo mankeeping tem sido utilizado em estudos contemporâneos para descrever um movimento de ressignificação masculina, especialmente entre homens formados em famílias tradicionais do século XX. Ao contrário do antigo paradigma que associava fragilidade ao universo feminino, as pesquisas atuais demonstram que a fragilidade é uma condição humana, não de gênero. Homens e mulheres carregam carências, afetos interrompidos, inseguranças e necessidades emocionais que se revelam de forma diferente, dependendo de como cada um foi constituído emocionalmente.

Em uma revisão publicada no Journal of Men’s Studies (2021), pesquisadores destacam que muitos homens de gerações anteriores foram educados para “performar fortaleza”, suprimindo emoções e vulnerabilidades, enquanto hoje se observa um esforço crescente para reaprender a lidar com afetos, estabelecer vínculos saudáveis e buscar apoio emocional. É justamente isso que o conceito de mankeeping evidencia: o trabalho interno que o homem moderno precisa realizar para cuidar de si e dos seus vínculos, diferindo do antigo modelo que o colocava quase exclusivamente no lugar de provedor, e não de participante emocional da vida.

Outros estudos, como os de Brené Brown sobre vulnerabilidade (2014) e os de Niobe Way sobre amizades masculinas (2011), mostram que homens que aprendem a compartilhar emoções, pedir ajuda e construir redes de apoio apresentam maior saúde mental, menor risco de depressão e melhor qualidade de vida. A conclusão é clara: ninguém foi feito para viver isolado.

Assim, torna-se evidente que estar sozinho, seja homem ou mulher, não é natural para a maioria das pessoas. Somos seres relacionais. A felicidade pode até ser individual, mas é profundamente facilitada quando compartilhada. Ter alguém para trocar ideias, caminhar junto, dividir o cotidiano – seja um parceiro, uma parceira, amigos, grupo religioso, comunidade ou família – é um dos pilares da saúde emocional.

Mas existe uma questão inevitável:
e quando os gênios não se comprazem? E quando a convivência, em vez de nutrir, desgasta?
Esse é o grande desafio das relações humanas. Em momentos assim, não há respostas prontas. Há trabalho, diálogo, maturidade e a decisão conjunta de reconstruir laços.

Roberto Carlos cantou: “É preciso saber viver”, em música escrita por Roberto e Erasmo Carlos. E talvez esse seja o maior aprendizado do nosso tempo. Saber viver, hoje, significa também saber se relacionar em meio a um mundo que nos aproxima e nos distancia ao mesmo tempo. As redes sociais conectam, mas não substituem a presença; aproximam, mas frequentemente nos isolam. Nas famílias, o tempo para encontros e visitas raramente existe, salvo entre pais e filhos que se cruzam por obrigação ou necessidade.

Por isso, é urgente estudar, analisar e compreender a própria vida emocional, para não cair no “buraco negro” da solidão contemporânea – esse lugar onde ninguém nos encontra, onde o silêncio se torna um castigo e o afeto, uma saudade eterna. Sem o abraço de um parceiro, sem a presença de uma parceira, sem o amparo de uma comunidade, sem alguém para nos encontrar, corremos o risco de fracassar emocionalmente, mesmo que todas as outras áreas pareçam estar em ordem.

Que sejamos, então, um pelo outro. Que quem constituiu família lute por ela. Que diante das adversidades, prevaleçam o diálogo, a escuta e a coragem de se manter juntos. Desistir do outro não costuma ser o melhor caminho.

Sigamos na fé, na coragem e na disposição de viver aquilo que sempre foi o mais precioso: a essência humana de se relacionar, de amar e de ser amado.

 

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