Mankeeping,
fragilidade humana e o desafio de saber viver
Por Pedro Claudio
O termo mankeeping tem sido utilizado em
estudos contemporâneos para descrever um movimento de ressignificação
masculina, especialmente entre homens formados em famílias tradicionais do
século XX. Ao contrário do antigo paradigma que associava fragilidade ao
universo feminino, as pesquisas atuais demonstram que a fragilidade é uma condição humana, não de gênero. Homens e
mulheres carregam carências, afetos interrompidos, inseguranças e necessidades
emocionais que se revelam de forma diferente, dependendo de como cada um foi constituído
emocionalmente.
Em uma
revisão publicada no Journal of Men’s Studies (2021), pesquisadores
destacam que muitos homens de gerações anteriores foram educados para
“performar fortaleza”, suprimindo emoções e vulnerabilidades, enquanto hoje se
observa um esforço crescente para reaprender
a lidar com afetos, estabelecer vínculos saudáveis e buscar apoio
emocional. É justamente isso que o conceito de mankeeping evidencia: o trabalho interno que o homem moderno
precisa realizar para cuidar de si e dos seus vínculos, diferindo do
antigo modelo que o colocava quase exclusivamente no lugar de provedor, e não
de participante emocional da vida.
Outros
estudos, como os de Brené Brown sobre vulnerabilidade (2014) e os de Niobe Way
sobre amizades masculinas (2011), mostram que homens que aprendem a
compartilhar emoções, pedir ajuda e construir redes de apoio apresentam maior saúde mental, menor risco de depressão
e melhor qualidade de vida. A conclusão é clara: ninguém foi feito para viver isolado.
Assim,
torna-se evidente que estar sozinho,
seja homem ou mulher, não é natural para a maioria das pessoas. Somos
seres relacionais. A felicidade pode até ser individual, mas é profundamente facilitada quando compartilhada. Ter
alguém para trocar ideias, caminhar junto, dividir o cotidiano – seja um
parceiro, uma parceira, amigos, grupo religioso, comunidade ou família – é um
dos pilares da saúde emocional.
Mas
existe uma questão inevitável:
e quando os gênios não se comprazem? E
quando a convivência, em vez de nutrir, desgasta?
Esse é o grande desafio das relações humanas. Em momentos assim, não há
respostas prontas. Há trabalho, diálogo, maturidade e a decisão conjunta de
reconstruir laços.
Roberto
Carlos cantou: “É preciso saber viver”,
em música escrita por Roberto e Erasmo
Carlos. E talvez esse seja o maior aprendizado do nosso tempo. Saber
viver, hoje, significa também saber se relacionar em meio a um mundo que nos
aproxima e nos distancia ao mesmo tempo. As redes sociais conectam, mas não
substituem a presença; aproximam, mas frequentemente nos isolam. Nas famílias,
o tempo para encontros e visitas raramente existe, salvo entre pais e filhos
que se cruzam por obrigação ou necessidade.
Por isso,
é urgente estudar, analisar e compreender a própria vida emocional, para não
cair no “buraco negro” da solidão contemporânea – esse lugar onde ninguém nos
encontra, onde o silêncio se torna um castigo e o afeto, uma saudade eterna.
Sem o abraço de um parceiro, sem a presença de uma parceira, sem o amparo de
uma comunidade, sem alguém para nos encontrar, corremos o risco de fracassar emocionalmente, mesmo que todas as
outras áreas pareçam estar em ordem.
Que
sejamos, então, um pelo outro.
Que quem constituiu família lute por ela. Que diante das adversidades,
prevaleçam o diálogo, a escuta e a coragem de se manter juntos. Desistir do outro não costuma ser o melhor
caminho.
Sigamos
na fé, na coragem e na disposição de viver aquilo que sempre foi o mais
precioso: a essência humana de se
relacionar, de amar e de ser amado.

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