Pedro Claudio e sua história
Ao final de 2025, olho para trás e me permito
refletir.
Antes de tudo, constato algo simples e profundo: eu ainda estou aqui.

Quando cheguei à emissora, Iporá vivia outro
tempo. O prefeito era José Antônio da Silva
Sobrinho, awu primeiro mandato, tendo como vice Sebastião Pereira Coutinho. Mais adiante, Mac Manhoe Távora Diniz, então secretário
de Saúde, assumiria a prefeitura. Vieram anos marcados por instabilidade
política: a fase do PMDB, seguida
pelo PSDB, com o mandato do doutor
Iron, que acabou cassado. Houve
intervenção do Governo do Estado, com a nomeação do interventor Luiz Otávio, depois o prefeito
temporário Valdion Marques. Na
sequência, um longo ciclo político com Naçoitan
Leite, precedido por Danilo
Gleic, até chegarmos a um marco histórico: Mayza Cunha, a primeira mulher a comandar a Prefeitura
de Iporá.
Enquanto a cidade escrevia sua história, o
mundo também mudava diante dos meus olhos — e dos meus microfones. Iniciei
minha carreira antes da internet.
O que havia era o telefone. Depois veio o fax, que já parecia uma revolução.
Não existiam computadores, nem comutadores; as redações funcionavam com máquinas de datilografia, papel carbono
e muito improviso. A informação chegava pelo rádio, pelas agências, pelas fitas
gravadas. O mundo era ouvido, reescrito e contado.
o mundo ainda assistia à existência da União Soviética, sob a liderança de Mikhail Gorbachev, com a Perestroika e a Glasnost anunciando o fim de uma era; o Brasil se chocava com o acidente radioativo do Césio-137, em Goiânia; vivíamos o fim da ditadura militar, a Nova República, o término da censura e a retomada da liberdade de imprensa. Noticiei a eleição de Tancredo Neves, a instalação da Assembleia Nacional Constituinte, sua morte precoce e a ascensão de José Sarney à Presidência. Vi nascer a Constituição de 1988 e acompanhei, passo a passo, a consolidação da democracia brasileira.
Nesse mesmo período, passei a acompanhar de
perto o Legislativo iporaense,
noticiando sessões, debates, conflitos e decisões que moldaram a vida local. O
rádio era — e continua sendo — testemunha da história cotidiana.
Meu ingresso na Rádio Rio Claro se deu por
meio de um concurso para locutor,
anunciado no ar pelo então diretor Olívio
Lemos, que buscava novos talentos. O anúncio exigia, no mínimo, o 2º
grau — hoje ensino médio —, boa dicção, capacidade de interpretação de texto e
disponibilidade para trabalhar.
Me inscrevi para disputar a vaga com um
verdadeiro batalhão: mais de cem candidatos.
Passei pela primeira peneira; restamos 41. Depois, uma nova fase reduziu o
grupo a sete. Por fim, ficamos três. Esses três enfrentaram um teste real:
leitura de anúncios nos intervalos, gravação de textos para inserção e leitura
de noticiários. Foram três meses de
avaliação prática, até a efetivação.
Por mais de um ano trabalhei sem carteira
assinada, sem contrato formal. Somente em maio de 1988, aos 23
anos, tive a carteira assinada e passei a ser CLT. Desde então, os
anos se acumularam — todos vividos dentro da mesma emissora.
Na técnica, vivi praticamente todas as fases
do rádio:
do disco de vinil, radiola,
vitrola e cartucheira, passei pelo MiniDisc,
pelo CD Player, até chegar à era
digital, quando a internet mudou tudo
— a forma de produzir, de informar e de se relacionar com o público.
Nesse tempo, exerci diversas funções, fiz
cursos, treinamentos e aperfeiçoamentos. Desde o início, me firmei como locutor animador, repórter e jornalista.
Funções que desempenho até hoje: editor,
pauteiro, repórter, locutor e, quando necessário, operador de áudio. O rádio ensina uma
lição fundamental: ninguém é apenas uma coisa.
Os anos de trabalho me trouxeram sabores — no
plural — aprendizado e, sobretudo, sobrevivência. Agora, já me aproximando da
aposentadoria, volto a olhar para trás e me faço perguntas inevitáveis:
Quantas situações enfrentei?
Quantas histórias contei?
Quantos segredos revelei — e quantos precisei guardar?
Quantas vezes tive de me conter em nome da
coerência e da ética profissional? Quantas vezes me perguntei: essa notícia vai contribuir com a cidade? Com a
comunidade? Será útil para alguém? Quantas vezes acertei e quantas vezes
errei, nem sei. Mas sei que consegui me manter antenado, sempre buscando atualização, atravessando
períodos de intensa produção e outros de silêncio — e, ainda assim,
permanecendo firme.
Não há arrependimentos. A evolução poderia ter
sido outra? Talvez. Mas por quê? A vida precisa ser vivida com a intensidade
que o contexto permite.
Na vida pessoal, conheci pessoas, namorei,
casei, tive dois filhos maravilhosos.
Fiquei viúvo — uma dor que a vida impôs — e casei novamente. Duas mulheres extraordinárias marcaram
profundamente minha existência. Com elas, construí e continuo construindo a
vida, sempre em busca de dias melhores.
Sinto que, em algum momento, será preciso passar o bastão. Isso ainda será feito.
Mas também sinto que ainda há tempo. Tempo para continuar inserido no mundo
noticioso, construindo história, acompanhando o homem e a mulher da cidade e do
campo, criando pontes. Com a consciência de que vivo, ao mesmo tempo, na aldeia e no global, e de que o que
faço aqui — na minha casa, na minha empresa, na minha família, entre amigos —
tem reflexos que ultrapassam fronteiras.
Ao longo de décadas, a atuação como rádio regional nos colocou na linha de
frente de acontecimentos que marcaram profundamente a história política, social
e humana do Oeste de Goiás. Mais do que noticiar fatos, estivemos presentes
como testemunhas do tempo, acompanhando crises, transformações e personagens
que ajudaram a moldar a identidade da região.
Entre os episódios mais graves cobertos, está o
atentado contra o então prefeito de Montes Claros de Goiás, João Batista Peres. Um fato que chocou a
população: um homem pulou o muro da residência do prefeito e efetuou disparos,
levando insegurança e apreensão à cidade e a toda a região. A cobertura exigiu
responsabilidade, cautela e compromisso com a verdade em um momento de extrema
tensão.
Em Israelândia,
acompanhamos a trajetória política de Armando
Cruz Manduca, ex-prefeito de uma cidade marcada pelo garimpo, pela
degradação do Rio Claro e por preocupações ambientais e sociais que se
arrastaram por anos. Foi também em Israelândia que se deu um dos períodos mais
conturbados da política local, durante a gestão de Divino do Jonas, personagem central de uma fase
turbulenta, mas que entrou para a história ao apresentar à região o nome de Marconi Perillo, então um jovem
praticamente desconhecido no Oeste goiano. Divino do Jonas enfrentou inúmeros
problemas políticos e administrativos e, posteriormente, viria a eleger sua
esposa prefeita do município, fato que também acompanhamos de perto.
Em Amorinópolis,
a cobertura foi marcada pela sucessão de administrações e por uma história
pessoal e política dramática. Desde a gestão de Ademir Leite, que mais tarde foi sucedido pela esposa,
em um contexto de separação, até o desfecho trágico com a morte de Ademir,
episódios que comoveram a cidade e exigiram sensibilidade jornalística diante
da dor coletiva.
Arenópolis,
outro importante município da região, viveu um momento de expectativa e
renovação com a gestão do prefeito Orestino
Vilela, simbolizando um novo tempo administrativo. No entanto, a
cidade também foi palco de um crime que abalou toda a região: o homicídio do
médico Leandro Neto, figura
querida, músico, poeta, dirigente esportivo, presidente e fundador do Iporá Esporte Clube, cuja morte gerou
profunda comoção e repercussão regional.
Em Piranhas,
desde a gestão de Otair Theodoro,
acompanhamos de forma constante as administrações municipais e o interesse do
público regional, registrando decisões políticas, obras, conflitos e avanços.
Já em Jaupaci, outra cidade
importante do Oeste goiano, estivemos atentos às diversas gestões, incluindo a
de Antônio José Guimarães,
sempre mantendo o compromisso de informar com equilíbrio e proximidade com a
população.
Por
isso, sigo.
E por isso, acima de tudo, viva a vida.


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