Um veículo de comunicação exerce papel essencial na
formação e construção de uma sociedade. Muito do modo de viver, pensar e agir
de uma comunidade nasce daquilo que ela ouve — das orientações, das informações
e das vozes que ecoam pelo rádio.
Em Iporá, no Oeste de Goiás, um desses marcos é a
Rádio Rio Claro, cuja trajetória se confunde com a própria história da cidade,
acompanhando gerações e registrando momentos decisivos da vida local.
A Rádio Rio Claro AM Ltda foi inaugurada em 1980, fruto da iniciativa de dois visionários: o empresário Sebastião Alves Cruvinel e o político Adjair de Lima e Silva.
Sebastião Cruvinel destacou-se no ramo de eletrônicos e, posteriormente, no comércio de móveis, com a fundação da loja SAINEL, em 7 de novembro de 1969. A empresa manteve suas atividades até 18 de setembro de 1991.
Adjair de Lima e Silva, advogado e economista, nasceu em Iporá em 7 de dezembro de 1943. Teve uma trajetória pública marcante: foi deputado estadual pela ARENA entre 1979 e 1983, secretário de Estado da Educação e Cultura no governo Ary Valadão (1980–1983) e, anos depois, secretário da Fazenda no Estado do Tocantins e na Prefeitura de Palmas, entre 2005 e 2008.
Unidos pelo ideal de dar voz à cidade e criar uma emissora de referência regional, buscaram um profissional com experiência em radiodifusão. Encontraram, em Mineiros (GO), o jovem Olívio Lemos Pereira Filho, que aceitou o desafio de montar a rádio do zero em Iporá. Assim nascia a Rádio Rio Claro.
A montagem da emissora e a estreia no ar
Olívio Lemos recorda que a rádio passou por cerca de 30 dias de preparação, mesmo antes de entrar oficialmente no ar. Durante esse período, a equipe recebeu treinamento intensivo.
“Na época, contratamos o senhor Manoel Pereira Nobre para a segurança — ele era o guarda da SAINEL e também da rádio”, lembra Olívio.
“O locutor chegava às 5h da manhã e ficava até as 8h,
mesmo sem a emissora estar transmitindo. Depois eu assumia das 8h às 11h, e até
o meio-dia havia um programa musical, seguido do famoso jornal ‘12ª Hora’. Tudo
funcionava como se já estivéssemos no ar.”
Quando, finalmente, em 19 de novembro de 1980, a Rádio
Rio Claro entrou oficialmente em operação, a reação da população foi imediata.
“Muitos ligaram perguntando como era possível, já que
as vozes eram daqui, mas pareciam profissionais experientes. A admiração foi
grande — fruto do nosso treinamento e dedicação”, conta Olívio.
A rádio rapidamente se tornou parte da vida da cidade.
“Foi propulsora de coisas magníficas. As pessoas
dedicavam músicas umas às outras, iniciavam namoros e dali surgiram muitos
casamentos. A Rádio Rio Claro ajudou a formar muitas famílias.”
A chegada da Igreja Católica
Com o passar dos anos, a emissora se consolidou como o
principal veículo de comunicação da região. Em 1992, a Diocese de São Luís de
Montes Belos, em parceria com a Congregação Redentorista de Goiás (C.Ss.R),
adquiriu a Rádio Rio Claro.
A emissora deixou de ser uma empresa Ltda e passou a
integrar o sistema de comunicação católico regional.
O interesse da Igreja nasceu do olhar visionário do
Padre Wiro, religioso passionista holandês, que já utilizava um espaço diário
de 15 minutos na emissora para evangelização. Ao saber da possibilidade de
compra, ele procurou o então bispo diocesano, Dom Washington Cruz, e, com o
apoio dos Redentoristas — já responsáveis pela Rádio Difusora de Goiânia —,
reuniu recursos para concretizar o projeto.
Com isso, foi criada a Fundação Dom Stanislau Van
Mellis, em homenagem ao primeiro bispo da diocese, grande entusiasta da
comunicação e sonhador de um meio de evangelização popular.
Entre os pioneiros dessa nova fase estiveram João Izá
de Souza, Romildo Pereira Silva, Paulo Telesse e Danilo Oliveira, que permanecem
até os dias atuais, além dos padres Everson Faria de Melo, Rafael Vieira, Fábio
Bento, Jesus Flores e César Moreira, de São Paulo, que colaborava ativamente,
mesmo à distância.
Em um guia institucional sobre a emissora, o Padre
Rafael Vieira escreveu a frase que sintetiza a missão da rádio:
“Comunicar promovendo comunhão.”
E foi exatamente isso que a Rádio Rio Claro passou a
fazer: acompanhar o homem e a mulher do campo, o cidadão urbano, promovendo
formação, informação e entretenimento.
O rádio e a voz da cidade
Durante muitos anos, a Rádio Rio Claro foi o único veículo de comunicação de massa em Iporá. Além dela, a Igreja mantinha um serviço de som instalado na torre da Igreja Matriz, por onde eram transmitidos avisos à comunidade.
Havia também o boletim comunitário escrito pelo Padre Wiro, a propaganda volante que circulava pelas ruas e até um sistema de som na rodoviária — formas simples, mas fundamentais, de comunicação local.
Ignorar a importância da Rádio Rio Claro é deixar uma lacuna na história de Iporá. A emissora foi — e continua sendo — um espaço de informação, debate e identidade cultural.
O jornalismo sempre foi a alma da rádio, presente em
eventos sociais, inaugurações, eleições, jogos esportivos e debates políticos,
formando gerações de comunicadores.
Profissionais que marcaram época
O pioneiro Olívio Lemos foi uma referência, lembrado pela exigência e pelo estilo firme, moldando o profissionalismo e a qualidade da programação que marcaram época.
Ao seu lado atuaram nomes importantes como Ademir Lima (irmão de Adjair de Lima), Roberto Lopes, Valteir Dias dos Santos, Vilton Pereira, Valdeci Pereira Borges, Donizete Pontes, Altamiro Veloso, Edson Rodrigues, Genuison Batista, Lázaro Faleiro de Miranda, Celso Henrique, Rosângela Eduardo, entre outros.
Da fase iniciada em 1987, destaca-se Pedro Cláudio,
que permanece até hoje, em 2025, atuando no jornalismo da emissora.
Os novos tempos e os desafios atuais
Durante décadas, a Rádio Rio Claro manteve uma estrutura jornalística sólida, com equipe de repórteres, unidade móvel e presença constante nas ruas.
Essa fase se estendeu até meados de 2023, quando uma nova gestão adotou um formato mais enxuto, concentrando funções em menos profissionais e reduzindo o tempo de jornalismo local a 30 minutos diários, além de boletins informativos.
Essas mudanças refletem um fenômeno mundial: o impacto das redes sociais e da internet sobre as rádios tradicionais. A audiência se fragmentou, os custos aumentaram e muitas emissoras precisaram se reinventar.
Mesmo assim, a Rádio Rio Claro mantém sua relevância,
sendo a única emissora comercial de Iporá, ao lado de uma rádio comunitária e
outra educativa, ambas com funcionamento e faturamento limitados por lei.
A presença da Igreja e o legado
Atualmente, a emissora segue sob a responsabilidade da
Diocese de São Luís de Montes Belos, presidida por Dom Lindomar Rocha Mota.
A gestão conta com o Padre Wallison, responsável pela administração econômica, e com diretores locais em cada cidade. Em Iporá, o Padre José Moreira, pároco da Paróquia Imaculada Conceição, foi convidado e aceitou a missão de dirigir a Rádio Rio Claro. Nessa nova fase, a emissora já contou com a direção de João Izá, Diácono Manoel Messias, Diácono Carlos Alberto e Lidiane Oliveira.
Além da Rádio Rio Claro, fazem parte da rede diocesana
as rádios Vale da Serra, em São Luís de Montes Belos, e Serra Azul, em
Caiapônia.
Mais que um meio de comunicação, a Rádio Rio Claro é
um patrimônio histórico e afetivo de Iporá. Um pedaço vivo da memória coletiva,
que ajudou a formar a identidade da cidade e que ainda hoje resiste,
adaptando-se aos novos tempos sem perder sua essência: informar, formar e
acompanhar a comunidade.
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