O versículo de Lucas 11,9 — “Peçam e lhes será dado; busquem e encontrarão; batam e a porta lhes será aberta” — costuma ser proclamado como garantia de que a persistência na fé sempre produzirá resultados imediatos. Entretanto, em muitos contextos religiosos, o texto é frequentemente reduzido a um slogan motivacional para atrair fiéis e estimular práticas de devoção vinculadas a templos, campanhas e líderes carismáticos.
O problema não está na promessa bíblica, mas na forma como ela é interpretada e utilizada. A persistência recomendada por Jesus não é uma técnica espiritual para “convencer” Deus, nem um mecanismo automático de recompensa. É um chamado à confiança profunda, madura, que nasce de uma relação sincera com o Pai — não de pressões externas, manipulações emocionais ou discursos que exploram fragilidades humanas.
Infelizmente, muitos que atravessam momentos de dor, crise ou solidão tornam-se alvo fácil de estruturas religiosas interessadas mais em sua adesão do que em sua libertação. A promessa de portas abertas acaba sendo instrumentalizada para gerar dependência institucional: “Se você não vier, não receberá; se não participar, não será atendido; se não contribuir, sua bênção não chega.” Esse desvio esvazia o sentido do Evangelho e confunde o fiel, que passa a associar Deus à igreja, ou pior, a Deus ao líder religioso que controla o acesso ao sagrado.
É preciso, portanto, um discernimento espiritual lúcido: Deus não é propriedade de denominação alguma. Nem todo apelo religioso é sinal de cuidado; nem toda promessa de milagre é expressão do Reino. A verdadeira persistência da fé não é insistir em ambientes que ferem, exploram ou manipulam, mas insistir na busca por um Deus que liberta, cura e respeita a dignidade humana.
Persistir, sim — mas persistir em Deus, não em armadilhas espirituais.
Bater à porta, sim — mas a porta que conduz à verdade e não à dependência.
Buscar, sim — mas buscar aquilo que o Evangelho realmente oferece: vida plena, consciência crítica e liberdade.
Porque a resistência que a persistência quebra não é a resistência de Deus, mas a nossa: resistência em amadurecer, em discernir, em libertar a fé daquilo que tenta aprisioná-la.








