Padre Fernando, que foi pároco em Iporá está trabalhando muito na África e recebendo elogios. A seguir um texto de uma liderança naquele país.
Xand e Alexandre Vinhas
Queridos Amigos
Hoje eu fui a Santa Missa. Uma Igreja linda. Uma verdadeira obra prima das mãos humanas. Um espaço dedicado a oração e à contemplação, espaço destinado à prática da fé. Tive o privilégio e o prazer de ser envolvido por uma verdadeira homilia. Um santo sacerdote, agindo in persona Christi andando por todo o espaço do corredor da Igreja. Ele falou com todos os que estavam presentes. Admoestou cada um individualmente, brincou com as crianças, sorriu para os jovens e olhou nos olhos dos adultos e lhes cobrou o trabalho e a oração. Acho que em toda minha vida, nunca tinha participado de uma Eucaristia tão linda e bela, tão envolvente e a presença Real de Jesus Cristo Eucarístico me tocou profundamente, quando recebi das mãos do padre, dois fragmentos Santos do Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus. Saímos bem cedo da casa do padre, pois eu havia dormido por lá, pois havia dado um encontro sobre Planejamento Familiar no Sábado, e hoje o padre me levaria para minha casa, na cidade de Pemba. O Padre recolheu os objetos Sagrados para a Santa Missa. Fomos de carro, eram 40 quilômetros até a Igreja. Saímos da estrada de asfalto, entramos numa estrada de chão. Daquelas que somente carro 4 por 4 é capaz de passar, com pedras grandes e buracos que era necessário contornar para passar. Ainda bem que não havia chovido, mas o tempo apesar de armar chuva, fazia uns 40º dentro do carro em movimento. Depois de um tempo na estradinha, chegamos ao nosso destino. Eu sabia exatamente onde era a Igreja. Uma quantidade de pessoas aos cantos em Macua (Língua local) e em palmas revelavam ali a existência de cristãos católicos. A espera do padre para celebrar a Santa Missa. Eu olhei para a Igreja. Vi uma palhota, que nada mais é que uma casa feita de bambu, madeira, pedaços de borracha para prender um bambu no outro e matope (Barro). O chão de terra batida, e bancos feitos com a união de borracha de pneu cortada em tiras e bambu. Um altar que da base ao chão tinham cerca de 50 centímetros, por 60 x 50 de largura e profundidade. Estava coberto com um pedaço de capulana (pano colorido com tema africano) azul e um pequenino vaso de flores “Maria sem vergonha”. Uma cadeira, que o padre ainda disse: “Olha, uma cadeira nova”. Então disse bem alto: “Quem vai confessar?” E vestindo sua indumentária se colocou no espaço existente atrás do altar, separado por uma parece e uma pequena porta, que o padre para entrar tinha que se abaixar. Um a um as pessoas iam entrando e saindo, e quando saíam se ajoelhavam e se punham a rezar e “pagar” sua penitência. O detalhe, é que nenhuma daquelas pessoas falava o português, e o padre, apesar de conhecer a Oração Eucarística inteira em Macua, não compreendia o que as pessoas lhe confessavam. Mas mesmo assim, confiante na Misericórdia de Deus, os absorvia, e os instruía como podia. Após a pequena maratona, o padre deu início à Celebração Eucarística em Macua... e nos olhos daquelas pessoas, eu via uma atenção e ao mesmo tempo uma despreocupação. Pois a final, hoje é o dia do Senhor. Cerca de 50 pessoas estavam ali. Na áfrica, quando se vê uma multidão, saiba que é uma multidão muito maior do que parece. Pois eles se apertam, não têm medo de se tocarem. Prova disso é que numa pequena esteira posta ao chão, com uns metro e meio de largura, haviam quase 20 crianças sentadas. Eu comecei a contar e quando terminei me assustei pela quantidade de crianças num espaço tão pequeno. Foi lindo poder ver o esforço do Padre para ser entendido. Ele falando o pouco de Macua que sabia e um senhor que se dispôs a traduzir a homilia. O padre estava tão atento, que até corrigia o que de errado o tradutor falava. Sobre minha cabeça, estava um teto feito de palha e havia uma corda, que ia da entrada até a parede do altar, esta corda de palha, estava de fora a fora coberta de flores como ornamento para aquele grande dia de Missa. Foi uma experiência única. Ao final da Missa. Fomos convidados para comer. Uma comida simples, mas muito deliciosa. Sentamo-nos no chão, recebemos nosso prato de Xima (O nosso angu) com uns pedaços de galinha. Todos ao redor, esperando que terminássemos de comer, para que todos também comessem.
E fomos embora.
Eu fico pensando. Aquilo é que é cristão de verdade. Sem Igreja adequada, num sol de 45º a sombra, sem instrumentos, sem entender a homilia, sem nem saber direito os grandes mistérios da fé. Eucaristia? É comida, no sentido mais simples da palavra. Reza? É distração no sentido mais belo que puder. Trabalho? Trabalho pra eles é viver. O Padre Fábio disse numa música que “... se perseguido aqui eu não for, sinceramente um bom cristão não sou...” Acho que essa gente até pra nascer sofre perseguição. Cada dia de vida é uma vitória. Quase ninguém sabe o dia que nasceu. Pois pra que uma mãe vai guarda o dia do nascimento de um de seus 10 filhos que já morreram de fome, ou por doença?
E eu que me achava cristão.
Paz e bem
Xand e Alexandre Vinhas
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