Por Pedro Cláudio – ouvindo, lendo, refletindo e aprendendo para
melhor viver
Vivemos tempos em que as vozes religiosas, sobretudo as das correntes neo-protestantes e pentecostais, anunciam com veemência: “Jesus está voltando”. Os sinais do tempo, dizem eles, apontam para o fim. Guerras, desastres naturais, desordem moral e espiritual seriam os prenúncios da consumação dos séculos. O homem mais cético, no entanto, observa que esse discurso acompanha o cristianismo desde os seus primórdios — há mais de dois mil anos —, e percebe que, historicamente, a expectativa do “fim dos tempos” é também uma constante humana, um espelho de nossos medos, esperanças e limites.
Ao longo dos séculos, essa narrativa tem sido
usada tanto como instrumento de fé quanto de poder. Em nome dela, muitos moldam
o comportamento das pessoas, impondo regras e controles. Há os que dela se
aproveitam, vendendo ilusões e “pedacinhos do céu”; mas há também os que,
sinceramente, creem e encontram na promessa da volta de Cristo uma razão
profunda para viver com retidão. Assim, há um lado sombrio — o da manipulação e
da exploração da fé —, mas também um lado luminoso, que é o pedagógico: o temor
de Deus pode ser, para muitos, o freio moral que impede a ruína do convívio
humano.
Sem esse senso do divino, talvez parte da
humanidade já tivesse se perdido. Como disse Santo Agostinho, “inquieto está o nosso coração enquanto não
repousa em Ti” (Confissões, I,1). É
essa inquietação — o desejo de eternidade e sentido — que nos leva a buscar
Deus, ainda que através do medo do fim. O verdadeiro desafio é transformar o
medo em amor, o temor em esperança. Que a fé que Jesus ensinou, mesmo que
pequena como um grão de mostarda (cf. Mt 17,20), conduza a humanidade pelos
caminhos da paz, da fidelidade e do amor verdadeiro. Estamos precisando, mais
do que nunca, dessa fé que não se impõe, mas se testemunha.
A metáfora do “fim dos tempos como uma mulher grávida”, cheia de dores
e contrações, atravessa as Escrituras e nos convida à reflexão profunda. O
próprio Cristo, em Mateus 24,8, advertiu: “Mas
tudo isso é o começo das dores .” Ele falava de guerras, fomes e
terremotos, sinais não apenas físicos, mas espirituais — o sofrimento do mundo
que geme por redenção.
O apóstolo Paulo retoma essa imagem em 1 Tessalonicenses 5,3 : “Quando as pessoas disserem : Estamos em paz e segurança ,então
de repente a ruina cairá sobre elas, como em dores do parto para a mulher grávida, e não conseguirão escapar.”É
um alerta à falsa tranquilidade: a verdadeira paz só virá com a conversão do
coração.
Em Romanos
8,22-23, Paulo amplia o sentido da metáfora: “Sabemos que a criação toda geme e sofre dores de parto até
agora.” O universo inteiro participa dessa expectativa da redenção, como
se tudo — estrelas, mares, florestas e homens — estivesse grávido de
eternidade, aguardando a plenitude do Reino de Deus.
E, por fim, no simbólico Apocalipse 12,2, “
Estava grávida e gritava, entre as dore do
parto, atormentada para dar à luz”. É a mulher que grita em dores de parto
anuncia o nascimento de algo novo: a vitória da vida sobre a morte, da graça
sobre o pecado.
Essas passagens mostram que as “dores de
parto” não são apenas sinal de destruição, mas de gestação. O mundo, com suas crises e sofrimentos, pode
estar gerando uma nova consciência espiritual, um novo modo de ser humano.
Que saibamos, então, ler os sinais do tempo
não com medo, mas com esperança. O “fim” pode ser, na verdade, o início de algo mais pleno. Que nas dores
do presente nasça um novo homem, mais justo, mais compassivo e mais unido a
Deus.
“Eis que faço novas todas as coisas” (Ap
21,5).
Pedro
Cláudio – 30 de outubro
Refletindo sobre o final do ano e as celebrações que se aproximam, na esperança
de que, em meio às dores e às esperas, renasça em nós a fé que transforma o
medo em amor e o fim em recomeço.

