sexta-feira, 24 de outubro de 2025

O caminho da paz inteligente

 

O caminho da paz inteligente


Há muito tempo estamos nos tornando estranhos uns aos outros. O que antes era implícito, agora se tornou explícito. A recente fala do presidente norte-americano, Donald Trump, ao defender o assassinato de suspeitos de tráfico de drogas, é um exemplo claro dessa mudança.
De fato, é compreensível a revolta contra o crime das drogas — ele destrói famílias, corrói comunidades inteiras e compromete o futuro de jovens. É urgente agir de forma firme contra quem lucra com o vício alheio. No entanto, anunciar a morte de suspeitos não é o caminho. Essa postura evidencia não apenas a fragilidade das ações preventivas, mas também a ausência de diálogo entre as nações e de uma verdadeira vontade de construir a paz.

Pouco se questiona essa fala, talvez porque venha de alguém que parece estar acima de todos os limites, como se fosse imune a qualquer julgamento. É inegável que Trump, assim como outros líderes mundiais, tem razão ao se opor a regimes ditatoriais e ao buscar soluções para conflitos como os da Faixa de Gaza e da Ucrânia. No entanto, o seu modus operandi sanguinário mostra que a paz não se conquista com mais violência.

A antiga lei do olho por olho, dente por dente (Êxodo 21:24) está sendo aplicada, mas ela nada tem a ver com o espírito cristão de perdão, misericórdia e reconciliação que Jesus ensinou. A história já demonstrou que a violência não se vence com violência, e sim com paz inteligente, diálogo e sabedoria.

Que sejamos, portanto, instrumentos dessa paz. Que Deus nos ilumine para vivermos com prudência e temor do Senhor — em casa, na família, no trabalho, na comunidade, nos clubes, em cada encontro com o próximo. Precisamos compreender que os grandes e famosos, ainda que influentes, nem sempre são bons exemplos a seguir.

Mesmo sem ocupar cargos de poder, podemos fazer a diferença onde estivermos. Basta não alimentar o ódio, não colocar mais lenha na fogueira. Como reza São Francisco de Assis:

“Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz;
onde houver ódio, que eu leve o amor;
onde houver discórdia, que eu leve a união.”

Não é preciso ser Putin na Rússia, Netanyahu em Israel, Lula no Brasil ou Trump nos Estados Unidos. Basta ser você mesmo, guiado pela luz da fé e pela inteligência do bem.
Pense nisso.

Por Pedro Cláudio RosaIporá, Goiás.

 

domingo, 19 de outubro de 2025

 

Entre o Julgamento e a Compaixão: Caso em Nova Maringá desperta reflexão sobre fé e prudência nas redes sociais . Reflexão Cristã: Entre o julgamento e a compaixão


Por Pedro Claudio

Um episódio ocorrido em outubro, no município de Nova Maringá (MT), tem chamado a atenção não apenas pelo fato em si, mas pelos seus desdobramentos. Trata-se do caso envolvendo o padre Luciano Braga Simplício, de 39 anos, e uma jovem de 21 anos, registrado em vídeo no interior da casa paroquial, no dia 12 de outubro, um domingo. As imagens, que rapidamente viralizaram nas redes sociais, mostram a moça escondida embaixo da pia do banheiro, após a residência ser invadida por pessoas supostamente ligadas ao ex-noivo dela.

O vídeo gerou uma onda de comentários, críticas e piadas na internet. Como acontece com frequência, as redes sociais transformaram um episódio delicado em espetáculo e motivo de chacota. No entanto, o ponto central da discussão pública recaiu sobre a quebra do celibato, compromisso exigido pela Igreja Católica aos seus ministros ordenados. Muitos aproveitaram o fato para tentar fragilizar a imagem da instituição e de seus líderes religiosos.

Importa lembrar que, em meio à avalanche de julgamentos, poucos se preocuparam em ouvir a versão dos envolvidos. O padre nega qualquer envolvimento inadequado, e a jovem – também vítima de exposição ilegal – não teve sua voz amplamente divulgada. Já os invasores, que afirmam ter agido em defesa da honra de um parente, agora são investigados pela polícia por possíveis crimes cometidos durante a invasão e divulgação das imagens.

A Diocese reagiu de forma rápida e responsável, instaurando um procedimento interno para apurar o caso, o que permitirá que todos os lados sejam ouvidos antes de qualquer conclusão. Esse é o caminho correto – o da prudência e da justiça.

Contudo, o estrago social e moral já está feito. Famílias, comunidades e fiéis estão abalados. E é justamente neste ponto que se impõe uma reflexão cristã profunda: quantas vezes nos deixamos levar pela pressa em julgar, pelas manchetes, pelos comentários nas redes? Quantas vezes esquecemos que, antes de qualquer erro ou suspeita, há pessoas, seres humanos que merecem respeito, escuta e misericórdia?

Cristo nos ensinou: “Quem dentre vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8,7). A lição é clara. Antes de condenar, é preciso olhar para dentro de nós, reconhecer nossas fragilidades e agir com amor, prudência e compaixão.

Que esse episódio sirva de alerta. A fé de muitos é frágil, e a exposição cruel de um escândalo pode abalar corações e afastar pessoas da Igreja. Cabe a cada cristão contribuir para restaurar a confiança, promover o perdão e evitar espalhar boatos e piadas que ferem e destroem.

O momento é de oração, discernimento e caridade. Que todos os envolvidos encontrem a verdade, a justiça e a paz — e que nós, como comunidade cristã, aprendamos a ser mais compassivos e menos juízes.

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

O valor da imprensa na era das redes

 

O valor da imprensa na era das redes


Por Pedro Cláudio – Iporá (GO) setembro de 2025

O desafio atual está justamente em compreender a diferença entre imprensa e mera divulgação, valorizando o jornalismo como atividade essencial à democracia e entendendo o papel das novas formas de comunicação no ambiente digital.

O que se vê hoje, porém, é uma confusão cada vez mais comum: gestores públicos tratando publicações em Facebook ou Instagram como se fossem jornalismo. É como confundir os nutrientes do feijão com o isopor moldado no mesmo formato. Ambos podem encher o estômago, mas só um alimenta de verdade.

Prefeitos, vereadores, governadores — e até presidentes — acreditam ser suficiente publicar suas versões dos fatos, mostrar feitos administrativos e divulgar realizações apenas em suas páginas pessoais ou institucionais. Fazem isso para os seus seguidores mais próximos, mas sem gerar efeito real de empatia com a população em geral. Informação unilateral não é notícia, é propaganda.

Quando os meios de comunicação são utilizados de forma responsável, seja no rádio, na televisão, no jornal impresso ou nos sites jornalísticos, há um ganho de credibilidade. O conteúdo ganha peso, passa pelo crivo da apuração e transmite mais confiança. Diferente do “oba-oba” das redes sociais, que muitas vezes soa como alarde vazio, sem efeito prático.

A modernidade chegou, mas precisa vir acompanhada de inteligência. A multiplicidade de plataformas deve ser usada para agregar, e não para reduzir a comunicação pública a um jogo de autopromoção. Publicar edital oferecendo dinheiro a internautas para divulgar feitos do poder executivo, por exemplo, parece mais uma infantilidade do que uma política séria de comunicação.

A imprensa, com seus jornalistas, continua a ser indispensável. É ela quem organiza os fatos, confronta versões, dá espaço à crítica e cumpre sua função democrática. As redes sociais são ferramentas importantes, mas não substituem o jornalismo. Confundir esses papéis é alimentar-se de isopor: pode até preencher, mas não sustenta.

O que é imprensa hoje?

Entre o jornalismo tradicional, os sites e os influenciadores

Durante muito tempo, falar em imprensa significava se referir a jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Esses veículos eram os principais canais de informação da sociedade e tinham como base o trabalho jornalístico, pautado pela apuração, checagem de fatos e compromisso ético com a verdade.

Com o avanço da internet, esse conceito se expandiu. Sites e portais de notícia passaram a desempenhar a mesma função que os jornais impressos, apenas em um novo formato. Portanto, ainda que digitais, esses canais são considerados imprensa porque exercem atividade jornalística de forma organizada.

A popularização das redes sociais trouxe uma nova camada de comunicação. Plataformas como Facebook, Instagram e TikTok se tornaram espaços de grande alcance, onde tanto veículos jornalísticos quanto pessoas comuns podem publicar conteúdo. No entanto, é importante destacar: as redes sociais são meios de difusão, não imprensa em si.

Nesse cenário, surgem os influenciadores digitais. Com milhares ou até milhões de seguidores, eles têm capacidade de mobilizar opiniões e dar visibilidade a temas. Porém, a atividade de influenciador não se confunde automaticamente com jornalismo. Influenciadores são comunicadores, criadores de conteúdo e formadores de opinião, mas só podem ser considerados parte da imprensa quando adotam práticas jornalísticas — como checar informações, ouvir diferentes lados e ter compromisso editorial.

Assim, a imprensa hoje é composta não apenas pelos meios tradicionais, mas também por sites e portais digitais que exercem jornalismo profissional. Já os influenciadores e comunicadores digitais representam um novo campo, relevante e poderoso, mas distinto em sua natureza.

 

A imprensa de ontem e o faz de conta de hoje

 

A imprensa de ontem e o faz de conta de hoje

Por Pedro Cláudio – Iporá (GO)

26 de setembro de 2025

Sou da época do jornalismo factual. Daquele tempo em que notícia só era publicada depois de checada, confirmada por fontes confiáveis e, ainda assim, nos deixava sob risco de responder judicialmente por qualquer deslize. Erros grotescos ou inocentes tinham peso, e a responsabilidade era enorme. O jornalismo era tratado com seriedade, e tudo era levado a sério.

Hoje a realidade é bem diferente. É verdade que existem reguladores, mas nem de longe se compara com os anos 80, 90 e início dos anos 2000. O que vemos atualmente é a multiplicação de veículos improvisados: basta um celular para montar uma TV web, ficar à espreita de sessões da Câmara, de um jogo de futebol ou de um acidente nas ruas, e pronto, já se considera imprensa.

Da mesma forma, quem contrata um serviço de streaming se intitula dono de uma rádio. Quem abre um site, escreve algumas linhas, tira fotos e publica na internet já é chamado de imprensa — muitas vezes, até elogiado em eventos públicos como se exercesse jornalismo de fato. Mas será mesmo?

O que percebo é muito mais marketing e propaganda do que jornalismo. Há um simulacro de imprensa que cresce, sustentado por aparências e pela facilidade tecnológica. A seriedade cedeu espaço à autopromoção.

Até quando isso vai durar? Não sei. A formação cultural e educacional do nosso povo não permite prever com precisão. O que parece certo é que apenas os efeitos práticos — a falta de credibilidade, a desconfiança e o desgaste social — poderão frear essa onda de faz de conta que insiste em se vestir de jornalismo na sociedade atual.

domingo, 21 de setembro de 2025

“A fé que liberta de verdade”

 





Reflexão – Domingo, 21 de Setembro de 2025

“A fé que liberta de verdade”

Domingo. Dia de silêncio interior, de encontro com Deus e também de perguntas. Sempre me pego pensando: por que creio? Por que me dedico à oração? O que, no fundo, eu busco?

A fé não deve ser cega, tampouco automática. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que a verdadeira fé deve ser acompanhada de fortaleza, sabedoria e ciência. Por isso, é natural — e até necessário — refletirmos sobre os porquês da nossa existência e da nossa caminhada espiritual. Ter fé não exclui pensar. Pelo contrário, a fé, quando verdadeira, amplia nosso entendimento.

Não falo de dúvidas que paralisam, mas de questionamentos que conduzem ao crescimento. Deus pode se revelar de forma sutil a uns e de maneira constante e palpável a outros. E cada pessoa responde a essa presença divina com um estilo próprio: há quem dedique todo o tempo, sacrifique conforto, família e recursos pessoais em nome de um ideal de salvação. São expressões legítimas de uma fé vivida com intensidade.

Mas, às vezes, me vem à mente aquela frase famosa: A religião é o ópio do povo, escrita por Karl Marx. Seria mesmo? Quando vemos manipulações e massas conduzidas ao erro em nome da fé, parece que sim. Mas, ao mesmo tempo, a religião também ordena comportamentos, inspira o bem, e motiva grandes transformações pessoais e sociais. Tudo depende do que fazemos com aquilo que recebemos. Por isso, é preciso discernimento. E cautela.

Na missa do 25º Domingo do Tempo Comum, o Papa Leão XIII disse: “Servir a Deus nos liberta da escravidão da riqueza.” Um alerta importante. O dinheiro, quando mal usado, pode se tornar uma arma — ele oprime, monopoliza, humilha. Padre Rafael Vieira, redentorista, reforça esse pensamento ao afirmar que o verdadeiro ensinamento do Evangelho é o uso correto dos bens: o dinheiro deve servir ao bem das pessoas, e não criar castas privilegiadas ou aprofundar desigualdades.

Assim, acredito com convicção: a fé liberta de verdade.
Liberta do egoísmo, da vaidade, da escravidão ao poder e ao consumo. Liberta da pressa, do vazio, da desesperança. E, acima de tudo, nos reconcilia com o outro e com Deus.

Que este domingo seja um tempo de silêncio ativo: que pensemos, sim, mas que também ouçamos. Que questionemos, mas que saibamos acolher as respostas que Deus nos dá — ainda que em sussurros.

domingo, 31 de agosto de 2025

Comunismo e Cristianismo: o que precisamos refletir

 

Comunismo e Cristianismo: o que precisamos refletir

Por Pedro Claudio em 31 de agosto de 2025

Imagem ilustrativa Câmara de vereadores 



Religião, comunismo e o risco da simplificação

É cada vez mais comum ouvir pregadores religiosos se posicionando contra o comunismo em seus púlpitos. O problema, contudo, é que muitas dessas falas carecem de clareza conceitual e catequese adequada, deixando a assembleia sem compreensão real sobre o que está em jogo. Em geral, o comunismo é associado a slogans como “ser contra Deus”, “defender o aborto”, “acabar com a família” ou “aprovar uniões homoafetivas”. Essa abordagem, além de simplista, afasta a discussão séria sobre as dimensões históricas, filosóficas e teológicas do tema.

Não seria uma falta de responsabilidade, por exemplo, pedir a intercessão de Nossa Senhora contra o comunismo — como já fez um bispo brasileiro — sem antes explicar ao povo o que se entende por comunismo, suas origens, seus contextos e diferentes interpretações ao longo da história? O ministério pastoral exige zelo, discernimento e formação, não apenas a transmissão de opiniões pessoais. Num Estado democrático e laico, usar o púlpito como palanque político é um desserviço à fé e ao próprio cristianismo.

É importante destacar que não se trata aqui de tomar posição “a favor” ou “contra” o comunismo como doutrina econômica ou sistema político. Essa questão é complexa e carregada de ambiguidades. O problema central está em como discursos religiosos, muitas vezes sem base conceitual, são instrumentalizados para atacar partidos ou figuras específicas da política nacional. O resultado é mais animosidade e polarização, revelando também o frágil nível de educação política da população.

Experiências alternativas

Em 2002, numa viagem ao 2º Fórum Social Mundial em Porto Alegre, tive contato com uma comunidade em Santa Catarina organizada em formato de cooperativa. As famílias viviam em um condomínio comunitário, unidas em torno da produção agrícola e pecuária. Havia um sistema de autogestão: todos trabalhavam para a cooperativa, os filhos tinham seus estudos financiados pela comunidade e, em troca, assumiam o compromisso de retornar como profissionais a serviço do coletivo. A própria cooperativa chegou a eleger um vereador, cujo salário era revertido para a comunidade.

Esse modelo, ainda que não seja “comunismo” no sentido clássico, mostra formas alternativas de organização que fogem ao padrão capitalista tradicional. Não cabe aqui julgá-lo como ideal ou não, mas constatar que existem diferentes experiências de solidariedade econômica, muitas vezes inspiradas por valores de partilha e corresponsabilidade.

Raízes bíblicas da partilha

Vale lembrar que a própria Sagrada Escritura apresenta passagens que inspiraram ideais comunitários e de justiça social:

  • “Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e tinham tudo em comum; vendiam suas propriedades e seus bens, e repartiam com todos, segundo a necessidade de cada um.” (At 2,44-45)
  • “Ninguém pode servir a dois senhores; não podeis servir a Deus e ao dinheiro.” (Mt 6,24)
  • “Ai de vós, ricos, porque já recebestes a vossa consolação! Ai de vós, que agora tendes fartura, porque passareis fome.” (Lc 6,24-25)

Essas passagens revelam que a crítica à acumulação de riquezas e a defesa da partilha são parte integrante da mensagem de Jesus. Não seria exagero falar em um “comunismo cristão”, entendido como a vivência comunitária baseada na fraternidade e no amor ao próximo.

O perigo está em transformar a palavra “comunismo” em mero rótulo negativo para atacar adversários políticos. Quando isso ocorre, o púlpito deixa de ser espaço sagrado e se converte em palanque.

O magistério da Igreja e o contexto histórico

O magistério católico já se pronunciou sobre questões sociais em diversos momentos. A encíclica Rerum Novarum (1891), do Papa Leão XIII, criticou tanto os abusos do capitalismo industrial quanto as propostas socialistas radicais de seu tempo, defendendo o direito à propriedade privada, mas também a dignidade dos trabalhadores. Já no século XX, encíclicas como Quadragesimo Anno (1931), de Pio XI, e Centesimus Annus (1991), de João Paulo II, reafirmaram a importância da Doutrina Social da Igreja como caminho de equilíbrio, evitando tanto o individualismo liberal quanto o coletivismo marxista.

Esses documentos mostram que a posição da Igreja não pode ser reduzida a uma dicotomia simplista entre “comunismo” e “capitalismo”. Cada época trouxe desafios próprios, exigindo discernimento diante de contextos políticos específicos.

Discernimento e verdade

A palavra “comunismo” assume múltiplos sentidos: o ideal filosófico de Platão em A República, o modelo teórico de Marx e Engels, e as experiências políticas de países como Cuba, China, Rússia ou Venezuela — cada uma com suas contradições. Reduzir tudo a uma só definição, ou usá-la como arma retórica contra inimigos políticos, é empobrecer o debate e trair a busca pela verdade.

O Evangelho nos convida ao discernimento e à reflexão responsável:
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (Jo 8,32)

Assim, antes de condenar, é necessário compreender. A fé não pode ser alimentada por slogans ou discursos de medo, mas pela verdade que liberta e conduz ao amor.

 

 

domingo, 24 de agosto de 2025

Quando a fé sustenta e o caminhar vacila

 

Por Pedro Claudio Rosa – 24 de agosto de 2025


Minha profissão religiosa é coletiva e particular ao mesmo tempo.
Meu caminhar é solitário e comunitário ao mesmo tempo.
Meu viver é único e coletivo ao mesmo tempo.

No entanto, a fé que entranha meus pensamentos e guia minhas ações é minha: íntima, misteriosa, pulsante. A vida é coletiva, mas a morte será solitária, e nesse abismo pessoal só a confiança em Deus pode me sustentar.

Sou como aquela comunidade apontada por Jesus: “Homem de pouca fé, por que duvidaste?” (Mt 14,31). Contudo, anseio ser como aquele que possui fé do tamanho de um grão de mostarda, pois está escrito: “Se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a esta montanha: ‘Passa daqui para lá’, e ela passará; e nada vos será impossível” (Mt 17,20).

Porque ter fé capaz de mover montanhas me leva à plenitude da vida, àquele lugar onde a esperança não desiste e o amor não se apaga.

Creio fielmente na presença de Deus em minha humanidade, não apenas na mão criadora que me formou, mas no convite constante para lançar-me em águas mais profundas, como o Senhor disse a Simão: “Faze-te ao largo, e lançai vossas redes para a pesca” (Lc 5,4).

Quiçá um dia, caminhando sobre as águas como Pedro, eu possa levar uma mensagem de paz. Uma paz que nasce da Palavra – essa espada afiada, viva e eficaz: “Mais cortante do que qualquer espada de dois gumes” (Hb 4,12).

No princípio era só a Palavra, e “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1,1). Pela Palavra tudo veio à existência, e pela Palavra eu existo.

Que esta Palavra me edifique.
Que me dê resiliência.
Que me faça resistir aos devaneios do mundo.
Que me leve sempre ao centro da vontade de Deus, onde a fé, ainda que pequena, floresce em eternidade.


domingo, 17 de agosto de 2025

Democracia: conceito, fundamentos e desafios

 

Democracia: conceito, fundamentos e desafios

 


Por Pedro Claudio – jornalista e historiador

Texto construído a partir de pesquisas

 

A palavra democracia tem origem na Grécia Antiga, formada por dois termos: demos (povo) e kratos (poder ou governo). Assim, etimologicamente, democracia significa “poder do povo” ou “governo do povo”. Na prática, trata-se de um sistema político em que a soberania reside no povo, exercida diretamente ou por meio de representantes eleitos.

 

O filósofo e jurista italiano Norberto Bobbio (1909–2004), um dos maiores estudiosos da democracia no século XX, define-a não como um regime perfeito, mas como um conjunto de regras do jogo político que garantem a participação e o controle dos cidadãos sobre os governantes. Para Bobbio, a democracia não é apenas um ideal, mas sim um processo institucional que deve assegurar direitos, liberdades e mecanismos de fiscalização do poder.

 

“O problema da democracia não é apenas o de saber quem governa, mas como governa.”

— Norberto Bobbio, O Futuro da Democracia

 

Os pilares da democracia

 

Para que um regime seja efetivamente democrático, alguns princípios básicos devem ser preservados:

 

Direitos individuais e coletivos – Liberdade de expressão, direito de opinião, de escolha política, de organização social e partidária.

 

Instituições fortes e independentes – Poder Judiciário, Ministério Público, Polícia Federal e demais órgãos de controle devem atuar de forma autônoma.

 

Processos legais e devido processo – Nenhum cidadão pode ser condenado sem ampla defesa, provas contundentes e julgamento fundamentado.

 

Presunção de inocência – Até que se prove o contrário, todos são inocentes perante a lei.

 

Respeito à divergência – Ser democrático significa aceitar opiniões diferentes, desde que não envolvam violência, crimes ou desrespeito às leis.

 

Democracia x Autoritarismo

 

Na democracia, um processo judicial segue várias etapas: investigação policial, análise do Ministério Público, direito de defesa, aceitação (ou não) da denúncia por um magistrado, oitiva de testemunhas e, só depois, eventual condenação. É um caminho longo, mas necessário para garantir justiça.

 

No autoritarismo, não há essa garantia: muitas vezes a acusação já é seguida de condenação sumária, sem defesa nem fundamentação legal. É por isso que, apesar de suas imperfeições, a democracia ainda representa o regime político mais seguro para proteger direitos e limitar abusos de poder.

 

Indicações de leitura

 

Norberto Bobbio – O Futuro da Democracia (1984)

 

Robert Dahl – Sobre a Democracia (1998)

 

Alexis de Tocqueville – A Democracia na América (1835)

 

José Afonso da Silva – Curso de Direito Constitucional Positivo (obra fundamental para entender a democracia no Brasil)

 

👉 Em resumo, compreender a democracia exige reconhecer que ela não é apenas “o governo da maioria”, mas um sistema complexo de garantias, responsabilidades e equilíbrios institucionais. Defender a democracia significa respeitar as regras do jogo democrático, mesmo quando pensamos diferente.

 

Objetivo: contribuir para um debate saudável.

Por Pedro Claudio – jornalista e historiador – Texto construído a partir de pesquisas.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Conheça-te a ti mesmo

 


Conheça-te a ti mesmo

Por Pedro Claudio Rosa

Nos anos 90, encontrei Micheline Lacasse.
Psicóloga canadense, viajante de almas,
trouxe na bagagem um livro que soava mais como um oráculo:
“Conheça-te a ti mesmo”.

Passamos um fim de semana juntos,
entre conversas e silêncios,
e aquela frase ficou em mim como pedra de rio,
rolando por anos no fundo da consciência.

Na juventude, eu jurava que me conhecia.
Sabia o que queria, o que temia,
o que me fazia sorrir ou sangrar.
Mas não sabia nada.

A vida — professora severa —
me levou para salas de aula que eu nunca quis frequentar.
E foi assim que entendi:
há decisões em que não nos reconhecemos,
sobretudo quando somos colocados à prova.

Veio a sequência macabra.
A perda de Severiana, minha sogra,
companheira de rotina e cuidados,
baque seco.
Depois, minha mãe, esteio da família,
conselheira, raiz que nos mantinha reunidos.

E então, o abismo: Marlene.
Vinte e nove anos juntos — desde 19 de maio de 1990.
Trabalhadora, amada pelos filhos, pela comunidade,
única com diploma universitário em nossa família.
E, ainda assim, em 20 de janeiro de 2020,
decidiu partir pelo caminho sem volta.
Quatro anos e ainda não sei deglutir esse fato.

Segurei-me nos filhos, Tauã e Yure.
Mais tarde, Deus me enviou Eva Maria, também viúva,
para que um fosse o esteio do outro.
Hoje, caminhamos juntos, amparando nossas ruínas.

Mas não foi só o seio familiar que sofreu rachaduras.
Perdi amigos que eram faróis:
Roberto Lopes, parceiro de profissão.
Noildo Miguel, homem sábio e lutador.
Diácono Manoel Messias, chefe e amigo,
mesmo nas discordâncias,
meu confidente.
E Ovídio Joaquim dos Santos,
companheiro de missão na Igreja com quem lembro com saudade de seus ensinamentos.

Ovídio, além de conhecimentos técnicos da academia, tinha sabedoria de vida.

Como conviver com isso?
Não sei.
A gente fica aéreo, fora dos trilhos,
tomando caminhos que não seriam os desejados.

Peço a Deus que não me traga mais despedidas,
até que eu mesmo seja chamado
à eternidade —
esse campo fértil de incógnitas e fé.

E volto à pergunta de Micheline:
Conhece-te a ti mesmo?

Sou ministro ordenado da Igreja Católica.
Desde a infância, servi nos altares,
mas agora estou distante da missão,
em um relacionamento que a lei da Igreja proíbe.
Não me reconheço, mas também não me nego.
Talvez seja hora de reinventar a missão,
ou talvez seja hora de apenas caminhar.

Hoje sei:
não nos conhecemos.
Não conhecemos nossos caminhos.
Não somos donos do destino,
por mais que nos agarremos a essa ilusão.

Fatos nos empurram para atos.
Atos abrem trilhas.
E trilhas nos levam a paisagens
que nunca sonhamos.

Uma coisa é certa:
enquanto eu respirar,
quero sentir a alegria possível.
Que Deus me guie —
mesmo por estradas incertas —
para um mundo melhor.
Eu espero.

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Afinal, sou mocinho ou bandido?

 


Afinal, sou mocinho ou bandido?

Por Pedro Claudio em 11 de agosto de 2025

Até pouco tempo, eu tinha certeza: sou do bem. Sou contra o mal. O mocinho da vida, não o vilão da história. Mas, ultimamente, essa certeza anda bamboleando. Parece que hoje, quem defende o bem comum, quem pensa no outro, quem acredita na justa distribuição de riquezas e no direito à saúde para todos, é visto com desconfiança — quase como um inimigo.

Se você quer que todos tenham acesso à faculdade que desejam, que as oportunidades sejam iguais, logo recebe um rótulo: “perigoso”, “vilão”, “contra o progresso”. O mundo virou do avesso, e eu me pego pensando: afinal, sou algoz ou vítima?

Na Igreja Católica, onde vivo minha fé como batizado, crismado e diácono ordenado, já ouvi que isso que penso é “teologia da libertação” — e lá de alguns vem o coro: “Cruz credo! Sai pra lá, comunista! Petista!”. Me convidam a virar as costas para o outro e, ao mesmo tempo, me dizem para me voltar para Cristo. Mas em Cristo está justamente o outro, o próximo. Como conciliar?

Parece que, se você defende causas sociais ou questiona o acúmulo exagerado de riqueza, automaticamente é contra o sistema, contra o país, contra tudo. E aí surge o rótulo de sempre: comunista, querendo transformar o Brasil numa Venezuela ou Cuba. Opiniões prontas, muitas vezes sem conhecer a realidade de lá, nem o contexto, nem o pretexto.

Vivemos num mundo estranho. Israel lança bombas e mata crianças, e há quem pendure a bandeira deles no altar de casa. Os Estados Unidos ameaçam o Brasil, impõem taxas, prejudicam nossa economia e provocam desemprego — e tem gente hasteando sua bandeira em praça pública, muitas vezes construída com dinheiro do próprio povo.

Diante disso, já não sei se sou vilão ou vítima, se estou ajudando ou atrapalhando, se estou aliviando ou aumentando o peso da cruz que tantos carregam. A crise não é só minha: é de identidade coletiva. E aí vem a pergunta: com quem se aconselhar? O mundo está rachado ao meio, e divisão — todos sabemos — significa “diabolos” na raiz da palavra, ou seja, o próprio demônio.

Que Deus nos dê sabedoria para viver e nos livre dos caminhos que negam a humanidade. Porque, diante dessa crise de identidade global, talvez só nos reste esperar — e confiar — numa intervenção divina.

Reflexão da vida Pedro Claudio de Iporá Goiás, 11 de agosto de 2025

sábado, 9 de agosto de 2025

Manipulação: quem puxa as cordas?

 

Manipulação: quem puxa as cordas?
Por Pedro Claudio




Você já parou para pensar na manipulação? Já refletiu sobre como, muitas vezes, somos usados por alguém, por um grupo político, por líderes religiosos — até por um time de futebol? A fragilidade da nossa mente, somada às nossas paixões, pode nos levar a agir sem razão.

Vivemos cercados de incentivos para consumir e obedecer. Criam datas “comemorativas” para fazer você gastar o salário: Dia dos Pais, Dia das Mães, Natal, Dia das Crianças... e por aí vai. Tudo embalado por uma mídia insistente, que transforma afeto em mercadoria e carinho em prestação parcelada.

Na política, a manipulação é um espetáculo à parte. Veja as recentes cenas no Congresso: políticos paralisando o trabalho legislativo não para defender a maioria, mas para atender interesses de um grupo minoritário. Onde estava a preocupação com o atendimento de saúde pública? Com a manutenção de programas sociais? Com a geração de empregos? Ao contrário, parecia haver um esforço para desmontar o que foi construído com tanto custo.

Nas redes sociais, pobres eleitores se engalfinham, trocando ofensas e bloqueios, defendendo “seu lado” como se a vida dependesse disso. No fim, quem ganha? Os mesmos que se beneficiam do caos.

E a religião? Já reparou no luxo de alguns líderes religiosos? Palácios, carros importados, vida de conforto — tudo sustentado pelos fiéis que acreditam estar contribuindo “pela obra”. Mas será mesmo? Será que todo esse ouro brilha para Jesus ou só para os cofres de quem o administra?

O futebol segue a mesma lógica. Torcedores brigam, gastam dinheiro, enfrentam longas viagens para apoiar o time. Enquanto isso, jogadores recebem salários milionários e dirigentes vivem em alto padrão. O torcedor volta para casa de ônibus lotado, muitas vezes sacrificando uma refeição decente pelo ingresso do jogo.

Pix para políticos, dízimos sem retorno social, horas e mais horas defendendo interesses alheios: tudo isso é fruto de uma manipulação coletiva. Há sempre um manipulador e há os manipulados. De um lado, mentes brilhantes arquitetando estratégias; do outro, gente que não para para pensar.

Não vale a pena lutar cegamente por um partido político — a menos que você seja parte dele e conheça seus bastidores. Não vale entregar seu suor incondicionalmente para um time, já que o retorno financeiro vai para atletas e dirigentes. Na fé, vale ajudar, participar, fazer o bem. Mas é preciso estar atento: como vivem os líderes que você mantém? Eles se parecem mais com você ou com uma elite intocável?

Pense nisso. E, principalmente, não se deixe manipular.

Pedro Claudio – jornalista, pensador


quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Confusão sobre Imposto de Renda: isenção é para dois ou cinco salários mínimos? Entenda o que muda e quando

Confusão sobre Imposto de Renda: isenção é para dois ou cinco salários mínimos? Entenda o que muda e quando

Nas últimas horas, o noticiário nacional tem causado confusão entre os brasileiros que aguardam a prometida isenção do Imposto de Renda para quem ganha até cinco salários mínimos. A medida foi anunciada ainda antes do prazo final para a entrega da declaração do IR em maio deste ano, o que fez muitos pensarem que já estariam livres da mordida do leão em 2025. Mas não é bem assim.

A verdade é que essa faixa ampliada de isenção — que beneficiaria quem recebe até R$ 5 mil mensais — ainda está em tramitação no Congresso Nacional e não vale para o próximo ano. Caso aprovada até o fim de 2025, só será aplicada nas declarações feitas em 2026, com base nos rendimentos de 2025.

Para complicar ainda mais, a Rede Globo noticiou ontem (07/08) que o Senado aprovou a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até dois salários mínimos (R$ 3.036). Muitos se perguntaram: “Mas não era até cinco salários?” A resposta é: a proposta dos dois salários mínimos é outra medida, com efeito imediato, para corrigir a tabela atual e garantir que quem ganha menos continue isento diante do aumento do salário mínimo.

A medida aprovada agora no Senado ratifica uma Medida Provisória que já estava em vigor e que poderia caducar por causa das recentes manifestações políticas no Congresso. Após dois dias de protestos contra a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a oposição desocupou o plenário, permitindo a votação simbólica do projeto.

O texto agora vai à sanção presidencial e mantém a isenção para quem ganha até dois salários mínimos — o que, na prática, evita que trabalhadores e aposentados dessa faixa sejam penalizados pela defasagem da tabela do IR diante do reajuste do mínimo.

Ou seja:

  • Isenção para até dois salários mínimos (R$ 3.036): já está em vigor e foi apenas confirmada pelo Senado;
  • ⚠️ Isenção para até cinco salários mínimos (cerca de R$ 7.600): ainda é promessa, e o projeto deve ser votado até o fim de 2025;
  • 📆 Quando isso vale? As mudanças afetam as declarações feitas em 2026, referentes ao ano-calendário 2025.

Enquanto isso, a população precisa de mais clareza para entender o que já é lei, o que ainda é promessa e quando, de fato, essas mudanças entram em vigor. Em meio a um