Euforia no plenário revela crise simbólica da representação política
no Brasil
Por Pedro Claudio
O episódio em si envolvendo a deputada não é
novidade. Problemas de saúde já foram admitidos por ela e por aliados, e seu
histórico recente inclui atitudes publicamente reprováveis, como perseguir um
jornalista armada pelas ruas — gesto que permanece sem explicação convincente.
A pergunta “o que será que ela queria?” ainda ecoa.
No entanto, o foco aqui não é a parlamentar,
mas o comportamento de seus colegas. Deputados pulando, vibrando, celebrando
como torcedores diante de um gol decisivo. A pergunta que se impõe é: o que
exatamente foi comemorado? Uma vitória contra a Justiça? Uma vitória da
oposição sobre o governo? Ou a vitória de um grupo político sobre o bom senso?
Para quem insiste em pensar com independência,
a cena oferece uma oportunidade de reflexão sociológica sobre o estado da
política nacional. Não é exagero dizer que o comportamento exibido é quase um
símbolo da desconexão entre representantes e representados. Parece faltar um
parafuso — não individualmente, mas na cabeça
coletiva de parte do Parlamento.
Nos últimos anos, o país assiste à defesa
pública de práticas que antes eram vistas como inaceitáveis. Parlamentares que,
em nome de uma liberdade mal interpretada, justificam e incentivam a propagação
de fake news como se mentir fosse um direito constitucional. Outros atacam
figuras que se dedicam a quem mais precisa, como o trabalho humanitário do
padre Júlio Lancellotti. Há ainda aqueles que chegam ao ponto de defender
medidas que prejudicariam o próprio Brasil, como no caso da disputa comercial
envolvendo os Estados Unidos e a taxação de produtos estrangeiros.
Essas iniciativas, quase sempre de vida curta,
ainda assim produzem efeitos profundos. Plantam na sociedade a ideia de que o
errado pode ser certo; que a desinformação é opinião; que o absurdo merece
espaço. Alimentam, pouco a pouco, uma espécie de ruptura coletiva, cultural e
moral.
Opinar é um direito. Liberdade é essencial.
Mas liberdade sem responsabilidade é só caos disfarçado de bravura.
A comemoração sem sentido que tomou conta do
plenário é, no fundo, um espelho incômodo. Mostra o vazio que algumas
lideranças insistem em festejar — e revela, com nitidez, o desafio de reconstruir
no Brasil um ambiente político guiado por seriedade, racionalidade e
compromisso com o interesse público.
Porque,
no final das contas, estavam comemorando o quê? O país ainda não sabe. Mas a
cena fala por si.







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