sexta-feira, 26 de setembro de 2025

O valor da imprensa na era das redes

 

O valor da imprensa na era das redes


Por Pedro Cláudio – Iporá (GO) setembro de 2025

O desafio atual está justamente em compreender a diferença entre imprensa e mera divulgação, valorizando o jornalismo como atividade essencial à democracia e entendendo o papel das novas formas de comunicação no ambiente digital.

O que se vê hoje, porém, é uma confusão cada vez mais comum: gestores públicos tratando publicações em Facebook ou Instagram como se fossem jornalismo. É como confundir os nutrientes do feijão com o isopor moldado no mesmo formato. Ambos podem encher o estômago, mas só um alimenta de verdade.

Prefeitos, vereadores, governadores — e até presidentes — acreditam ser suficiente publicar suas versões dos fatos, mostrar feitos administrativos e divulgar realizações apenas em suas páginas pessoais ou institucionais. Fazem isso para os seus seguidores mais próximos, mas sem gerar efeito real de empatia com a população em geral. Informação unilateral não é notícia, é propaganda.

Quando os meios de comunicação são utilizados de forma responsável, seja no rádio, na televisão, no jornal impresso ou nos sites jornalísticos, há um ganho de credibilidade. O conteúdo ganha peso, passa pelo crivo da apuração e transmite mais confiança. Diferente do “oba-oba” das redes sociais, que muitas vezes soa como alarde vazio, sem efeito prático.

A modernidade chegou, mas precisa vir acompanhada de inteligência. A multiplicidade de plataformas deve ser usada para agregar, e não para reduzir a comunicação pública a um jogo de autopromoção. Publicar edital oferecendo dinheiro a internautas para divulgar feitos do poder executivo, por exemplo, parece mais uma infantilidade do que uma política séria de comunicação.

A imprensa, com seus jornalistas, continua a ser indispensável. É ela quem organiza os fatos, confronta versões, dá espaço à crítica e cumpre sua função democrática. As redes sociais são ferramentas importantes, mas não substituem o jornalismo. Confundir esses papéis é alimentar-se de isopor: pode até preencher, mas não sustenta.

O que é imprensa hoje?

Entre o jornalismo tradicional, os sites e os influenciadores

Durante muito tempo, falar em imprensa significava se referir a jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Esses veículos eram os principais canais de informação da sociedade e tinham como base o trabalho jornalístico, pautado pela apuração, checagem de fatos e compromisso ético com a verdade.

Com o avanço da internet, esse conceito se expandiu. Sites e portais de notícia passaram a desempenhar a mesma função que os jornais impressos, apenas em um novo formato. Portanto, ainda que digitais, esses canais são considerados imprensa porque exercem atividade jornalística de forma organizada.

A popularização das redes sociais trouxe uma nova camada de comunicação. Plataformas como Facebook, Instagram e TikTok se tornaram espaços de grande alcance, onde tanto veículos jornalísticos quanto pessoas comuns podem publicar conteúdo. No entanto, é importante destacar: as redes sociais são meios de difusão, não imprensa em si.

Nesse cenário, surgem os influenciadores digitais. Com milhares ou até milhões de seguidores, eles têm capacidade de mobilizar opiniões e dar visibilidade a temas. Porém, a atividade de influenciador não se confunde automaticamente com jornalismo. Influenciadores são comunicadores, criadores de conteúdo e formadores de opinião, mas só podem ser considerados parte da imprensa quando adotam práticas jornalísticas — como checar informações, ouvir diferentes lados e ter compromisso editorial.

Assim, a imprensa hoje é composta não apenas pelos meios tradicionais, mas também por sites e portais digitais que exercem jornalismo profissional. Já os influenciadores e comunicadores digitais representam um novo campo, relevante e poderoso, mas distinto em sua natureza.

 

A imprensa de ontem e o faz de conta de hoje

 

A imprensa de ontem e o faz de conta de hoje

Por Pedro Cláudio – Iporá (GO)

26 de setembro de 2025

Sou da época do jornalismo factual. Daquele tempo em que notícia só era publicada depois de checada, confirmada por fontes confiáveis e, ainda assim, nos deixava sob risco de responder judicialmente por qualquer deslize. Erros grotescos ou inocentes tinham peso, e a responsabilidade era enorme. O jornalismo era tratado com seriedade, e tudo era levado a sério.

Hoje a realidade é bem diferente. É verdade que existem reguladores, mas nem de longe se compara com os anos 80, 90 e início dos anos 2000. O que vemos atualmente é a multiplicação de veículos improvisados: basta um celular para montar uma TV web, ficar à espreita de sessões da Câmara, de um jogo de futebol ou de um acidente nas ruas, e pronto, já se considera imprensa.

Da mesma forma, quem contrata um serviço de streaming se intitula dono de uma rádio. Quem abre um site, escreve algumas linhas, tira fotos e publica na internet já é chamado de imprensa — muitas vezes, até elogiado em eventos públicos como se exercesse jornalismo de fato. Mas será mesmo?

O que percebo é muito mais marketing e propaganda do que jornalismo. Há um simulacro de imprensa que cresce, sustentado por aparências e pela facilidade tecnológica. A seriedade cedeu espaço à autopromoção.

Até quando isso vai durar? Não sei. A formação cultural e educacional do nosso povo não permite prever com precisão. O que parece certo é que apenas os efeitos práticos — a falta de credibilidade, a desconfiança e o desgaste social — poderão frear essa onda de faz de conta que insiste em se vestir de jornalismo na sociedade atual.

domingo, 21 de setembro de 2025

“A fé que liberta de verdade”

 





Reflexão – Domingo, 21 de Setembro de 2025

“A fé que liberta de verdade”

Domingo. Dia de silêncio interior, de encontro com Deus e também de perguntas. Sempre me pego pensando: por que creio? Por que me dedico à oração? O que, no fundo, eu busco?

A fé não deve ser cega, tampouco automática. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que a verdadeira fé deve ser acompanhada de fortaleza, sabedoria e ciência. Por isso, é natural — e até necessário — refletirmos sobre os porquês da nossa existência e da nossa caminhada espiritual. Ter fé não exclui pensar. Pelo contrário, a fé, quando verdadeira, amplia nosso entendimento.

Não falo de dúvidas que paralisam, mas de questionamentos que conduzem ao crescimento. Deus pode se revelar de forma sutil a uns e de maneira constante e palpável a outros. E cada pessoa responde a essa presença divina com um estilo próprio: há quem dedique todo o tempo, sacrifique conforto, família e recursos pessoais em nome de um ideal de salvação. São expressões legítimas de uma fé vivida com intensidade.

Mas, às vezes, me vem à mente aquela frase famosa: A religião é o ópio do povo, escrita por Karl Marx. Seria mesmo? Quando vemos manipulações e massas conduzidas ao erro em nome da fé, parece que sim. Mas, ao mesmo tempo, a religião também ordena comportamentos, inspira o bem, e motiva grandes transformações pessoais e sociais. Tudo depende do que fazemos com aquilo que recebemos. Por isso, é preciso discernimento. E cautela.

Na missa do 25º Domingo do Tempo Comum, o Papa Leão XIII disse: “Servir a Deus nos liberta da escravidão da riqueza.” Um alerta importante. O dinheiro, quando mal usado, pode se tornar uma arma — ele oprime, monopoliza, humilha. Padre Rafael Vieira, redentorista, reforça esse pensamento ao afirmar que o verdadeiro ensinamento do Evangelho é o uso correto dos bens: o dinheiro deve servir ao bem das pessoas, e não criar castas privilegiadas ou aprofundar desigualdades.

Assim, acredito com convicção: a fé liberta de verdade.
Liberta do egoísmo, da vaidade, da escravidão ao poder e ao consumo. Liberta da pressa, do vazio, da desesperança. E, acima de tudo, nos reconcilia com o outro e com Deus.

Que este domingo seja um tempo de silêncio ativo: que pensemos, sim, mas que também ouçamos. Que questionemos, mas que saibamos acolher as respostas que Deus nos dá — ainda que em sussurros.