quinta-feira, 22 de agosto de 2019

2019 Mineração é um cavalo de Tróia para as cidades.



Jarbas Vieira - MAM

Rede Diocesana alerta: mineração pode representar riscos para comunidades locais

Por Pedro Claudio

A Rede Diocesana de Rádio, atenta aos fatos que impactam a vida da população, reforça seu papel de conscientização e reflexão crítica sobre temas que muitas vezes chegam à sociedade de forma distorcida ou superficial. Um desses temas, que ganha destaque, é a mineração — atividade cercada de promessas de progresso, mas que pode esconder graves consequências sociais e ambientais.

O que para muitos municípios parece um atalho para o desenvolvimento econômico, pode se revelar um verdadeiro “fogo de palha”: brilha intensamente no início, mas logo se apaga, deixando apenas cinzas e prejuízos. Essa é a avaliação de Jarbas Vieira, representante do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM), organização que atua desde 2002 junto às comunidades afetadas por empreendimentos minerários no Brasil.

O caso de Iporá: alívio disfarçado

Em meados dos anos 2000, a cidade de Iporá, no Oeste de Goiás, chegou a vislumbrar a instalação de um projeto de exploração de níquel, o que trouxe expectativas de geração de empregos e aquecimento econômico. No entanto, com a crise financeira global de 2008, o projeto foi interrompido — e hoje, para especialistas, como o professor Valdir Specian, geógrafo da UEG de Iporá, essa “frustração” pode ter sido uma sorte disfarçada.

Segundo o professor, o município escapou de uma série de impactos que costumam acompanhar esse tipo de atividade, e que são observados em dezenas de outras cidades do país.

Efeitos colaterais da mineração

Jarbas Vieira explica que a chegada de grandes projetos minerários altera profundamente a rotina e a estrutura social dos municípios. “Quando uma mina se instala, vem uma leva de trabalhadores de várias regiões do país. Isso gera aumento da prostituição, do consumo de drogas, da violência, da exploração sexual — inclusive de menores — além de outras formas de degradação social”, afirma.

Para ele, o retorno financeiro para as cidades é ínfimo frente aos prejuízos. “As comunidades arcam com as consequências ambientais, como a contaminação das águas e o desmatamento, e também perdem sua identidade e modo de vida. Tudo isso para atender a interesses econômicos externos, que nada deixam de legado positivo”.

Panorama nacional: impacto em 3.500 municípios

Hoje, mais de 2.000 municípios brasileiros recebem a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), conhecida como o "royalties da mineração". Além disso, o MAM estima que outros 1.500 municípios enfrentam a mineração de forma irregular ou ilegal. Somados, são cerca de 3.500 cidades onde o extrativismo mineral está presente.

O Brasil concentra 92% da sua mineração legalizada em apenas três estados: Minas Gerais, Goiás e Pará, com 62 municípios abrigando as maiores operações minerárias. Apesar da magnitude econômica, o impacto real sobre as comunidades locais é motivo de grande preocupação.



Consciência e resistência

Organizado em 13 estados brasileiros, o MAM atua com ações concretas para ampliar o debate sobre os direitos das populações locais e os limites da mineração predatória. A proposta do movimento é que a atividade mineral seja repensada com base na soberania popular, respeitando os limites ambientais e sociais de cada território.

A Rede Diocesana de Rádio reforça: informar é essencial. Só com conhecimento e participação social será possível construir uma sociedade que não troque sua saúde, sua água e sua dignidade por promessas passageiras de crescimento.

 

 


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