Minha História no Jornalismo: Entre a Pauteira e a Cabeceada
Atuo no jornalismo em rádio desde 1987, em Iporá, Goiás, numa época em que ainda pairavam os resquícios da censura e da vigilância sobre a imprensa, heranças amargas da ditadura. E quem conhece rádio de interior sabe: muitas vezes é preciso bater o escanteio e correr para cabecear — mas, graças a Deus, a comemoração é sempre coletiva.
Aprendiz ontem, aprendiz hoje. Em 2025, completo 38 anos de atividade e continuo aprendendo. Um episódio que marcou minha trajetória foi quando um advogado, em tom crítico, me chamou de "repórter inerte". No momento, foi difícil digerir, mas, mais tarde, compreendi a correção. O repórter não pode e não deve ficar parado. Desde então, passei a estar mais presente nas audiências do fórum, principalmente em pautas da área criminal. Visitava cartórios, delegacias, quartéis da Polícia Militar, criava relações de confiança e conquistava facilidades de acesso à informação. Estar onde a notícia acontece virou princípio: quem fica inerte corre o risco de contar apenas meias-verdades ou se pautar por uma única versão dos fatos, claro, hoje, temos outros meios, na na época sem celular, sem rede social, nem internet. telefone só discado e cada chamada tinha um valor a pagar.
Mais adiante, ao entrevistar um político, ouvi outra crítica: que eu fazia perguntas "capciosas". Agradeci. Para mim, foi um elogio. O repórter precisa ser ousado, fazer as perguntas que o povo quer ver respondidas, sem medo de deixar o entrevistado em situação desconfortável. O importante é manter-se sem partidarismo, sem ideologia, sem julgamento, apenas com o compromisso de inquirir e buscar a verdade. Isso é bom para toda a sociedade.
No entanto, não basta perguntar: é preciso checar, apurar, confirmar. Uma notícia mal apurada é como um remédio com a dosagem errada — pode causar sérios problemas. O desafio é grande, especialmente porque muitas vezes falta estrutura, e as empresas de comunicação, inevitavelmente, precisam equilibrar o ideal jornalístico com a realidade financeira.
Sobre as perguntas "capciosas", reafirmo: o repórter precisa ter responsabilidade, saber onde está pisando, ter clareza do objetivo e consciência da missão. Isso depende da formação do profissional, da sociedade em que vive, de seus valores e, no meu caso, de uma orientação cristã, católica, pautada pela Doutrina Social da Igreja. Perguntar sim, mas com coerência, checando antes de divulgar.
Político que trabalha apenas para si mesmo ou para um pequeno grupo deve, sim, se incomodar com uma imprensa atuante. Contestação é normal. Na história recente da polarização política no Brasil, todos — direita, esquerda e centro — reclamam da imprensa. Mas é importante lembrar: a função do jornalismo não é agradar; é informar. E deve fazer isso sem medo, mas com ética, formando consciências.
Isso não é ideologia; é fato. A imprensa não pode se dobrar a pressões e deve, sempre, sair da inércia. Que as perguntas incômodas, aquelas que perturbam, continuem existindo — sempre acompanhadas de apuração rigorosa dos fatos, doa a quem doer, inclusive a nós mesmos.
Pedro Cláudio
Comunicador e Jornalista em Iporá, Goiás
Desde 1987, sem interrupções — conhecendo histórias, registrando acontecimentos, entrando nos lares, fazendo amizades e construindo pontes. Iporá manhã de 28 de abril de 2025.
2 comentários:
Belíssima história do nosso amigo e jornalista referência no Oeste Goiano!
Obrigado amigo e colega, juntos, todos na RCR agora RDR somos parte da história.
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